Aniversário da Reforma Protestante: 506 anos protestando?
Em julho de 2017, nas celebrações dos 500 anos da Reforma, estive junto com pesquisadores/as da Rede Latinoamericana de Estudos Pentecostais – RELEP, nas muitas atividades do chamado “Verão da Reforma”. E algo me chamou atenção: se Wittenberg na atualidade era uma cidade pequena, o que seria aquele vilarejo há 500 anos atras?
Wittenberg é uma cidade no centro da Alemanha, com área de 147,86 km com um pouco mais de 12 mil habitantes (Censo de 2021)[1]. Tem uma rua central com prédios históricos muito bem preservados, dentre eles, a Igreja do Castelo de Wittenberg, do príncipe Frederico III da Saxônia, com sua famosíssima porta onde, presumivelmente, Martinho Lutero (1483-1546), em 31 de outubro de 1517, afixou suas 95 teses contra a venda das indulgencias.
Era um panfleto incendiário, polemico, que afetava absolutamente a vida dos moradores do vilarejo, para além das questões teológicas, afetava a economia local e pessoal; ou seja, implicava na vida eterna – céu, inferno e no espaço intermediário na teologia católica: purgatório - e implicava no bolso. Tinha questões macro e microeconômicas; afetava as relações internacionais dos impérios e principados e mexia com os trocados nos bolsos dos indivíduos. Então, misture-se nacionalismos, disputas de campos eclesiásticos (dominicanos & agostinianos), futricas entre os príncipes, incendiados com vendas/compras de perdão, em poucos dias, meses e anos, aconteceram mudanças viscerais no cristianismo ocidental, com repercussões ainda hoje.
Obvio que não foi apenas uma questão econômica ou politica, muito menos apenas uma disputa teológica, mas todas no mesmo balaio. Nossa “aldeia global” também vive sendo incendiada por polemicas disfarçadas de interesses teológicos (alguns cinicamente diriam “interesses divinos”...), mas amalgamadas por questões difusas econômicas e politicas. E mesmo com todas as complexidades e diversidades de interpretações dos fatos, temos uma questão central: Lutero foi contra a “mercantilização da salvação”. E, nos dias 17 e 18 de abril de 1521, na Dieta de Worms, diante do representante do Papa, do Sacro Imperador Carlos V, e toda a corte, afirmou que somente aceitaria se retratar se fosse convencido por argumentação bíblica.
Anacronismos à parte, cissiparidades protestantes ilimitadas, creio que ainda essa é a questão central: ser protestante é ser contra a comercialização da fé e decidir suas questões a partir de análises e argumentações bíblicas.
NOTAS:
[1] https://en.wikipedia.org/wiki/Winterberg
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Gedeon Alencar é doutor em ciências da religião-PUC-SP, é membro do Grupo de Estudos do Protestantismo e Pentecostalismo- GEPP-PUC-SP, da Comissão de Historia da Igreja na América Latina e Caribe -CEHILA e da Rede de Latinoamericana de Estudos Pentecostais-RELEP, autor dos livros Protestantismo Tupiniquim. Hipótese sobre a (não) contribuição evangélica à cultura brasileira, Matriz Pentecostal Brasileira. Assembleias de Deus 1911-2011, Ecumenismos & Pentecostalismos. A relação entre o pescoço e a guilhotina e Filemom. Essa carta deveria ter sido escrita? Casado com Diana Freire e ambos se congregam na Igreja Betesda-SP. Acompanhe-o pelo Instagram.