60 anos do Golpe: nada a comemorar

60 anos do Golpe: nada a comemorar

Hoje, setores mais radicais do estrato social estão comemorando, com boa dose de saudosismo, os 60 anos do Golpe que fez com que o país vivesse uma Ditadura Civil-militar por pouco mais de duas décadas. Tempo em que o Estado se arvorou sobre os direitos individuais e desprezou os direitos humanos.

Não há nada para celebrar. Não há justificação possível para a tortura, para a morte, patrocinadas pelos agentes do Estado. Nenhuma ideia pode ser maior do que a vida humana. Nenhum conceito, nenhuma propriedade pode ser sobreposta sobre a vida.

Por isso o governo Lula erra ao restringir todo e qualquer movimento que faça a sociedade brasileira lembrar deste cruento momento da História do Brasil. É preciso lembrar para nunca mais esquecer; é preciso repisar a história para que ela nunca mais volte a acontecer. Não se engane: em parte, a flopada da tentativa de golpe do Derrotado se deu pela consciência sócio-historica, somente possível pela superação da negação.

Discordo da postura do governo em não tocar criticamente no assunto por conta do respeito e da boa convivência com os militares. Primeiro, porque os que não aderiram à proposta de Golpe, não fizeram nada mais do que a obrigação; segundo, porque não estou bem certo de que esta propalada resistência se confirmaria caso o presidente tivesse decretado a GLO em 08/01, ideia contra a qual Janja reagiu veementemente, segundo documentário sobre o assunto. Ponto para a primeira dama.

Vou além. A partir desta nova ameaça e diante dessa tutela inconstitucional que as forças armadas exercem sobre a República, deveríamos como nação repensar suas formas e tamanho, abrangência, tendo por parâmetro o modelo adotado pela Costa Rica ou mesmo a Suíça.

É preciso relembrar o golpe, revisitar tais páginas da nossa História. Perdão, presidente! Não é hora de botar o pé no freio. O pedal correto é o acelerador. Para o bem da República.

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Pr. Dr. Sérgio Ricardo Gonçalves Dusilek é Mestre e Doutor em Ciência da Religião (UFJF/MG); Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Filosofia da Religião, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF/MG); Pesquisador em Estágio de Pós-Doutorado pela UEMS (Bolsista CAPES); Pastor na Igreja Batista Marapendi (RJ/RJ); Professor do Seminário Teológico Batista Carioca. Autor de Bíblia e Modernidade: A contribuição de Erich Auerbach para sua recepção e co-organizador de: Fundamentalismo Religioso Cristão: Olhares transdisciplinares; O Oásis e o Deserto: Uma reflexão sobre a História, Identidade e os Princípios Batistas; e A Noiva sob o Véu: Novos Olhares sobre a participação dos evangélicos nas eleições de 2022.