A cruz e o arco-íris

Encontro de de igrejas inclusivas; debandada na Igreja Metodista Unida nos Estados Unidos; a reação de cristãos aos chips cerebrais em humanos desenvolvidos por Elon Musk; dia do pastor; Brasil aparece em topo de ranking em matéria de crença religiosa.

A cruz e o arco-íris

A cruz e o arco-íris

Uma grande conferência de igrejas inclusivas e afirmativas – que acolhem homossexuais, transgêneros e intersexuais - está marcada para os dias 9 e 10 de junho, na Igreja Betesda, em São Paulo. A Jesus Hope se apresenta como o “o maior encontro” desse tipo já realizado no país. “Será um encontro histórico para o cristianismo no Brasil”, informa a divulgação.

Palestras, pregações, música e danças estão na programação, que convidou nomes como o do pastor e autor bissexual Felipe Heiderich, que já foi casado com uma pastora, pastor Hermes Fernandes, da Igreja Reina (RJ), a reverenda Alexya Salvador, conhecida como a primeira pastora trans do país e co-fundadora da Evangélicas pela Igualdade de Gênero (EIG), e a teóloga lésbica Diessica Nara, entre outros.

O encontro promete gerar muita controvérsia. Como já escrevi neste espaço, o debate sobre a homoafetividade na igreja, ao lado do aborto, é o assunto mais desafiador para a igreja evangélica. Por causa dessa pauta, denominações históricas, como a Metodista, seguem em ritmo acelerado de dissensão.

Alguns tópicos para aprofundar:

· O que pregam as igrejas inclusivas?

· Como surgiu a chamada teologia queer? Quais as principais diferenças doutrinárias em relação à teologia reformada e quem são seus mais proeminentes defensores?

· Como as igrejas históricas reformadas acolhem seus membros homossexuais? Que denominação se mostra mais inclusiva?

· Quantas e quais as igrejas inclusivas existem no Brasil? Elas estão crescendo?

· Como lidam com os haters e a oposição a esta forma de interpretar as Escrituras?

E por falar em Metodistas...

Desde 2019, 3.838 igrejas deixaram formalmente a Igreja Metodista Unida nos Estados Unidos, a igreja-mãe do metodismo no país, por conta de divergências teológicas sobre ordenação ou casamentos de fiéis da comunidade LGBT. Segundo a agência United Methodist News Service, o número representa 12,5% das congregações metodistas americanas. E a debandada aumenta mês a mês. Desse total, cerca de 2 mil se associaram à Igreja Metodista Global, criada em maio deste ano por lideranças conservadoras que não aceitam essas mudanças de posicionamento.

Para apurar:

· Quais os reflexos desse grande movimento de divisão para a Igreja Metodista brasileira?

· Que impacto pode ter nos trabalhos sociais e universidades?

· Qual o tamanho da denominação no Brasil e como se posiciona frente às pautas afirmativas que estão sacodindo a igreja ao redor do mundo?

Candidato (mais um) a anticristo

Esta vai para o que gostam dos temas apocalípticos. Elon Musk é o mais recente candidato a Anticristo, segundo manifestações de milhares de evangélicos em redes sociais. A empresa do bilionário sul-africano, Neuralink, obteve nesta última semana (25) licença da Food and Drug Administration (FDA) para conduzir ensaios clínicos para implantar chips cerebrais em humanos.

O objetivo dos implantes, segundo Musk, é tratar condições como paralisia e cegueira, ajudando pacientes a controlar movimentos com a força do pensamento. Reportagem do The Washington Post informa que a tecnologia representa uma das apostas mais ambiciosas do empresário, que controla um pequeno império de negócios inovadores que vão de carros elétricos a foguetes.

Nas redes, a notícia movimenta os cristãos dispensacionalistas. Uma pesquisa no Tik Tok com a frase “elon musk anticristo” tem nada menos que 533.1 milhões de visualizações.

Ficou curioso?

· Que passagens do livro do Apocalipse sinalizam que o Anticristo será um líder global com poder para “chipar” humanos, colocando marcas na testa e nos pulsos das pessoas?

· Mas, afinal, quem a Bíblia identifica como Anticristo? Ou seriam Anticristos?

Dia do pastor

A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), da Câmara dos Deputados, aprovou no dia 25 o PL 4029/2021, instituindo o Dia Nacional do Pastor Evangélico, proposta de autoria do deputado João Campos (Republicanos-GO). O deputado federal Eli Borges (PL-TO), presidente da Frente Parlamentar Evangélica, foi o relator do PL. Com a aprovação, ficará estabelecido como Dia Nacional do Pastor Evangélico todo o segundo domingo do mês de junho.

A ideia do PL é homenagear em especial os pastores que trabalham com os “mais necessitados, incluindo presídios e pessoas em risco social”. Segundo o texto, pesquisas do Instituto de Estudos da Religião mostram que, de cem instituições de assistência espiritual aprovadas pela Secretaria Estadual de Administração Penitenciária, do Rio de Janeiro, 81 são igrejas evangélicas. Destas, 47 são pentecostais, 20 de missão e 14 de outras origens.

Para lembrar:

Foi também em um mandato do presidente Lula, em 2010, que foi instituído Dia Nacional do Evangélico, em 30 de novembro.

A pergunta que não quer calar:

Que relevância tem para as igrejas esse tipo de deferência?

Vai na fé

Quase nove em cada dez brasileiros afirmam acreditar em Deus, segundo pesquisa Global Religion 2023, produzida pelo instituto Ipsos. O índice de 89% de “crentes” posiciona o Brasil no topo de um ranking de 26 países, segundo matéria publicada pela BBC News. O Brasil aparece empatado com África do Sul, com os mesmos 89%, e Colômbia, com 86% - um empate técnico dada a margem de erro de 3,5 pontos percentuais da pesquisa.

A Global Religion 2023 é baseada em dados coletados entre 20 de janeiro e 3 de fevereiro, com 19.731 entrevistados, aproximadamente mil deles no Brasil. Holanda (40%), Coreia do Sul (33%) e Japão (19%) foram os países onde a população menos crê em Deus ou em um poder superior, de acordo com a pesquisa. OBrasil teve 28 pontos percentuais acima da média da crença em Deus, que foi de 61%, informa a reportagem.

Apesar de 89% crerem em Deus ou em um poder superior, apenas 76% dos brasileiros afirmaram seguir uma religião. Dentre esses, 70% disseram ser cristãos (católicos, evangélicos e outras denominações) e 6%, de outras religiões; 22% disseram não ter religião, dos quais 16% são ateus e 6% agnósticos.

* Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Marília de Camargo César nasceu em São Paulo, é casada e tem duas filhas. Jornalista, é editora-assistente de projetos especiais do Valor Econômico, maior jornal de economia e negócios do Brasil. É também autora de livros que provocam reflexão nas lideranças evangélicas. Suas obras mais conhecidas são Feridos em nome de Deus, Marina — a vida por uma causa e Entre a cruz e o arco-íris.