Inteligência Artificial pode entrar em conflito com valores religiosos

Lendo o artigo de Juliano Spyer (Neurocientista de Stanford adota oração como terapia, publicado no jornal Folha de S.Paulo, em 24/10/2023), me chamou a atenção o último parágrafo quando ele menciona as startups, como as coreanas Meadow ou Biblely, que propõem substituir pastores por serviços de inteligência artificial. Sobre isso penso que elas se encaixam justamente na ideia de uma prática religiosa experimentada individualmente e sem uma igreja. E isso parece vir justamente de encontro aos anseios de uma geração atual hiperindividualista pós-cristã, pós-moralista, pós-moderna, pós-tudo.

Há alguns anos já existe um movimento religioso dos chamados desigrejados. Aqueles que possuem uma fé, mas acreditam que ela não precisa ter relação alguma com a igreja institucional. O perigo sempre é construirmos uma espiritualidade que tem menos a ver com “algo maior do que nós mesmos” e mais com “nós mesmos”. Criamos um Deus à nossa imagem e semelhança.

Penso apenas que seria mais honesto nomear essas novas vivências religiosas de qualquer outro nome menos cristianismo. Cristianismo pressupõe valores como comunidade, unidade, comunhão, partilha, solidariedade, amor, serviço, companheirismo etc. O apóstolo Paulo disse certa vez aos cristãos de Tessalônica: “Querendo-vos muito, estávamos prontos a oferecer-vos não somente o evangelho de Deus, mas, igualmente, a própria vida; por isso que vos tornastes muito amados de nós” (1Ts 2.8).

As tecnologias são sempre neutras. Depende, claro, do uso que fazemos delas. Mas numa igreja gerida totalmente pela inteligência artificial o que Paulo fala não existirá mais.

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Paulo Alexandre Sartori é redator e pastor na igreja Comunidade da Graça.