Abrace um pecador: Exercitando a graça e a misericórdia

Abrace um pecador: Exercitando a graça e a misericórdia

Recentemente estive em um bar junto com muitas pessoas do meu trabalho. Ali estavam feministas, amantes de sinuca, jogadores de videogame inveterados, membros da comunidade LGBTQIA+ e outros perfis. Pessoas que não eram crentes e que reconheço nelas o comprometimento com o trabalho e a dedicação que elas têm em fazer o melhor, sempre com foco e respeito.

Estávamos ali para comemorar a conquista de um objetivo comum. Passamos por um processo de avaliação crucial e definidor para o futuro. Vários documentos foram produzidos, relatórios escritos. Foram mobilizados muitos setores para coletar informações como forma de evidenciar o trabalho feito por determinado período. Reuniões, reuniões e mais reuniões.

Tudo isso gerou um resultado positivo. Fomos avaliados com a nota máxima. Alegria! Com esse objetivo conquistado, algumas pessoas agitaram a turma para uma confraternização. Depois de definido o local, pensei: será adequado estar nesse lugar a essa hora? Fui. O momento foi muito agradável. Entre risadas e histórias tive a oportunidade de conhecer um pouco mais a vida de algumas pessoas com as quais convivo e vice-versa. Muitas delas sabem que tenho uma prática religiosa e isso, até onde sei, cada vez menos tem sido barreira para nosso convívio.

Em Lucas 5.29-38 Jesus está em uma festa promovida por um cobrador de impostos (figura social execrável na época). Os religiosos da época o censuram por isso: como você pode estar junto desses pecadores?, disseram eles. E ainda emendaram: o irmão da outra igreja jejua e não bebe, e você aí, que se diz santo, fazendo isso! Ao que veio a resposta de Jesus com a conhecida analogia de remendo velho em roupa nova. Quem não conhece? Até quem nunca costurou na vida sabe que não funciona. Como novas pessoas que somos, temos a oportunidade de superar velhos preconceitos e exercitar o amor de Cristo.

Conversando com uma pessoa da minha igreja, disse a ela que pode ser muito bom abraçar um gay (para citar apenas um tipo em evidência hoje). Isso pode ser um testemunho tão forte que pode criar um constrangimento (2Co 5.14) naquela pessoa e fazê-la pensar: “Peraí, esse crente está me abraçando e me tratando com respeito”. Se queremos ser sal e luz no mundo, devemos exercer esse mandato com os pecadores tal como Jesus disse no mesmo trecho citado acima.

Essa interação pode gerar um canal de comunicação e também de conhecimento mútuo que vai beneficiar ambos os lados. A partir disso teremos a oportunidade de conhecer muitos dos desafios e conflitos que fazem parte da vida dessas pessoas. Essa aproximação nos ajudará também a sermos mais compreensivos e humildes na hora de olharmos para a vida dos outros como se tivéssemos a solução para tudo. Calçar as sandálias da humildade nos fará bem. Em tempos de tanta disputa e tantos rostos sisudos, tenho pensado que cada vez mais temos que exercitar a graça e a misericórdia de Deus na vida de outras pessoas com as quais não temos muito em comum ou mesmo sérias divergências.

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


João Barros é evangélico há mais de 20 anos. Doutor em Filosofia e doutor em Ciências Sociais (UBA-AR), atualmente leciona no Programa de Pós-graduação em Integração Contemporânea da América Latina (PPGICAL) e no curso de Ciência Política e Sociologia da UNILA. É autor de Poder pastoral e cuidado de si em Foucault (2020) e Biopolítica no Brasil – uma ontologia do presente (2022). Também coordena o projeto Evangélicos e política na América Latina. Contato: joao[ponto]barros@unila[ponto]edu[ponto]br .