As igrejas profanadas
Deputada apresenta projeto de lei para “tipificar invasão a igrejas"; Igreja Mórmon é uma das maiores doadoras para obras sociais; Valdemiro Santigo processado; Astronauta leva bíblia ao espaço.
Igrejas profanadas
A deputada estadual bolsonarista do Amazonas Débora Menezes (PL) apresentou projeto de lei para “tipificar a invasão a igrejas e o ultraje a cultos religiosos no Amazonas como infração administrativa com imposição de multa”. A proposta prevê multa inicial de 30 salários mínimos (R$ 39 mil) a “quem invadir ou ocupar igreja ou local dedicado a culto religioso, ou ali permanecer contra a vontade expressa da autoridade religiosa local, com outra finalidade qualquer que não a prática de culto e devoção da religião em questão”.
A deputada argumenta que “com os anos vimos a crescente onda de violência propagada contra entidades religiosas por puro preconceito com a fé alheia, causando destruição de templos religiosos, pichação e muitas das vezes também a destruição de imagens sagradas”. Ela cita casos ocorridos no Paraná, em fevereiro de 2022, e em março deste ano. “Invasões, seguidas de roubos a igrejas católicas e protestantes foram registrados pelo país”. Houve invasões no Rio Grande do Norte, Amazonas e Alagoas, onde pelo menos 32 casos de violações a igrejas foram registrados, de acordo com dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDH).
Nos Estados Unidos, 69 atos de vandalismo contra igrejas foram registrados no primeiro trimestre deste ano, de acordo com o relatório “Hostilidade contra igrejas”, produzido pelo Family Research Council. O número total marca um aumento significativo no número de ataques em comparação com os anos anteriores: foram 15 ataques contra igrejas no primeiro trimestre de 2018, 12 no mesmo período de 2019, 14 em 2021 e 22 nos primeiros quatro meses de 2022. No condado de Washington, na Virgínia, por exemplo, vândalos quebraram janelas e picharam a Igreja Batista Konnarock com palavrões e imagens obscenas, em pleno domingo de Páscoa.
Para pesquisar:
Por que ainda não temos uma pesquisa de abrangência nacional que monitore a violência contra igrejas?
No Brasil, aparentemente, igrejas católicas e evangélicas sofrem vandalismo na mesma medida. Será?
A violência contra patrimônio religioso está sempre associada a questões político-ideológicas?
A deputada bolsonarista Débora Menezes não mereceria um perfil mais aprofundado, inclusive com análise de suas postagens nas redes sociais (fake news por ali em abundância?)
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Quem tem, põe...
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias – popularmente conhecida como Igreja Mórmon – é uma das maiores doadoras para obras sociais no Brasil em 2023, segundo o Monitor das Doações, plataforma criada no início da pandemia pela Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR) para acompanhar a generosidade de organizações da sociedade civil, de empresas e pessoas físicas. Neste ano, até o último dia 14 de abril, a igreja aparece em quinto lugar entre os maiores doadores, com R$ 2,5 milhões de contribuição às vítimas das enchentes no litoral norte de São Paulo. O primeiro lugar até a data ficou com o Instituto CPFL, que doou R$ 17,9 milhões, Gerando Falcões (R$ 9 milhões), Google.org (R$ 5,6 milhões) e Klabin (R$ 3,8 milhões).
A Igreja Mórmon é, muito provavelmente, a segunda igreja cristã mais rica do planeta – atrás da Igreja Católica, cujas finanças são difíceis de calcular. Os ativos dos mórmons são geridos por um fundo patrimonial considerado o maior do mundo pelo instituto de pesquisas Sovereign Wealth Fund Institute – o Ensign Peak Advisors. Segundo o Sovereign Wealth, o Ensign Peak possuía uma riqueza de US$ 124 bilhões em 2022.
Mas a igreja dos mórmons é mesmo uma igreja cristã? Um debate infindável existe a esse respeito. O site da igreja informa que: “Baseando-se nas escrituras, Joseph Smith declarou: ‘Os princípios fundamentais da nossa religião são o testemunho de Profetas e Apóstolos concernentes a Jesus Cristo, de que Ele morreu, foi sepultado e que se levantou de novo no terceiro dia e que ascendeu aos céus; todas as outras coisas que concernem à nossa religião são apenas meros apêndices.’”
Evangélicos mundo a fora, no entanto, defendem que se trata de uma seita. Entre os ensinamentos considerados heréticos estão a negação do conceito de Trindade por Joseph Smith, o profeta referencial da religião, que afirma que Deus, o Pai, tem um corpo físico, o Jardim do Éden ficava no Missouri e que os indígenas americanos seriam descendentes dos antigos israelitas.
A denominação cresce no Brasil. Com cerca de 1,5 milhão de membros e 2.100 congregações, é a terceira em número de fiéis da igreja mundial, atrás apenas dos Estados Unidos e do México. E está avançando. Em agosto, inaugura seu 18º templo no país, em Brasília, uma construção de 2,3 mil metros quadrados na Asa Norte, próximo ao Lago Paranoá. Em construção há um em Salvador e outros foram anunciados para Belo Horizonte, Londrina, Maceió, Ribeirão Preto, Santos, Vitória e zona leste de SP.
Para apurar:
Quais as principais divergências teológicas entre mórmons e evangélicos?
Que mudanças recentes a doutrina mórmon sinalizou fazer que poderia aproximá-la mais dos evangélicos tradicionais?
Que denominações evangélicas fazem doações expressivas para causas sociais no Brasil?
Quem não tem, tira...
O milagre necessário para que o apóstolo Valdemiro Santiago, líder da Igreja Mundial do Poder de Deus, quite suas dívidas milionárias parece cada dia mais distante. Ele, que apelou aos fiéis que ajudassem a sanar as dificuldades financeiras da igreja com ofertas de R$ 10 milhões, teve, na semana passada, seu jatinho penhorado pela Justiça de São Paulo. O processo é movido pelo Nacional Bank, que cobra uma dívida de cerca de R$ 21,4 milhões da empresa Intertevê Serviços Ltda, pertencente ao pastor.
Em fevereiro, uma boa matéria da repórter Victoria Bechara, da Veja, revelou que o império construído pelo ex-discípulo de Edir Macedo acumula pelo menos R$ 13,4 milhões de dívida ativa junto à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. Com 6 mil templos no total, em outros 21 países, a igreja teve uma mansão de sua propriedade em Ilhabela penhorada por falta de pagamento de IPTU (R$ 3,8 milhões) e viu seu templo principal em São Paulo, avaliado em R$ 33 milhões, ir a leilão no ano passado por falta de pagamento de aluguéis.
Para apurar
Até que ponto a influência de pregadores como Valdemiro Santiago ainda se apoia predominantemente nas transmissões de seus canais de TV?
O que precisaria mudar na legislação concernente às concessões de rádio e TV para evitar que lideranças condenadas criminalmente seguissem controlando canais tão influentes de comunicação?
Que outros pastores donos de concessões de rádio e TV já foram condenados por estelionato ou crimes financeiros e seguem pregando impunemente?
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Santa Ceia na Lua
O primeiro astronauta negro destacado para uma missão com destino à Lua, Victor Glover, espera poder levar sua Bíblia no foguete, quando decolar, provavelmente em setembro de 2024, da estação da Nasa na costa da Flórida. Glover fez isso quando foi ao espaço pela primeira vez em 2020: além da ‘Palavra’, levou alguns copinhos para tomar a Comunhão, ou Santa Ceia, como dizem os protestantes.
Numa entrevista concedida à Christianity Today, o astronauta pediu orações para que a missão Artemis II, que retoma os projetos da Nasa para a órbita da Lua desde a última missão Apollo, em 1972, seja bem-sucedida. “Ore por nossa tripulação”, disse ele à CT. “Ore pelo hardware. Ore pela equipe em todo o mundo que apoia nosso trabalho. E a missão mais difícil de todas é aquela em que nossas famílias estão prestes a embarcar. Se você puder orar por nossas famílias, isso seria incrível.”
Da última vez que esteve no espaço, Glover afirmou que se sentiu mais próximo de Deus. “Ler a Bíblia no espaço foi uma experiência poderosa. Glover se lembra de estar sem peso em seus aposentos na Estação Espacial Internacional e de ler Filipenses 4. Algumas das palavras eram tão familiares para ele, como o versículo 13, que diz [...] ‘Posso todas as coisas por meio de Cristo, que me fortalece’”, diz a entrevista. O astronauta afirma que gostaria de levar novamente sua Bíblia impressa, embora ainda não saiba se isso será possível. Talvez um tablet com as Escrituras se ajuste melhor aos requisitos de peso da missão.
*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.
Marília César é jornalista e escritora.