As redes sociais descobrem o Flash mob gospel

As redes sociais descobrem o Flash mob gospel

Flash mob, esse é o termo definidor das louvações gospel em supermercado e shopping que viralizaram nas últimas semanas. Caracterizado como uma ação programada por um grupo de pessoas para ocorrer em espaço público, o flash mob evangélico já vem sendo feito há muitos anos, em ônibus, praças, mercados.

Com as redes sociais, tais ações tendem a repercutir com mais força e acabam gerando a impressão que são um fenômeno inédito, quando na verdade a novidade está unicamente na publicidade que a prática adquire. Há, com efeito, uma tradição, sobretudo entre evangélicos de igrejas neopentecostais, de organizar fiéis para a realização disso que antigamente era chamado de evangelismo explosivo.

No passado eu mesmo, juntos com outros jovens da igreja, fizemos uma ação desse tipo. Na ocasião, combinamos de nos encontrar num shopping vestidos com roupas esfarrapadas. Feito maltrapilhos, nossa intenção era provocar um choque entre os consumidores para comunicar que o mundo não é o mar de rosas em que muitas pensam viver. Havia, portanto, uma proposta de intervenção política, algo que não sei dizer se há nas ações que circulam pelas redes sociais nos últimos dias.

Hoje, embora em minha igreja não utilizamos a estratégia de evangelização do tipo flash mob, não vejo nenhum problema nisso. Mas entendo o espanto e a preocupação de muitos. O alinhamento da igreja com Bolsonaro verificado nos últimos anos produziu um estrago tão imenso que é grande o receio de haver uma finalidade política nessas ações.

Não por acaso, muitos falam em ação “orquestrada”, termo que evoca a ideia de uma ação maligna. Se há uma finalidade política nos recentes flashs mobs evangélicos, ainda não sabemos. O que sabemos é que essa prática recorrente entre evangélicos passou a ser conhecida por gente que até então não tinha conhecimento dela.

* Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Alexandre Gonçalves é pastor da Igreja de Deus  e colunista do The Intercept Brasil, é um dos líderes do grupo Cristãos Trabalhistas, ligado ao PDT. Foi ordenado desde 1994, tendo sido antes missionário atuando em Cuba com implantação de grupos caseiros e em comunidades carentes do Rio de Janeiro. Bacharel em teologia e direito e licenciado em letras, mas sua paixão é a teologia prática. Especializado em implantação de igrejas pelo SEMISUD em Quito, aprendeu os princípios do que chama de “teologia do pobre”. Além de pastor, é servidor público e diretor parlamentar do Sindicato dos Policiais e Servidores da Polícia Rodoviária Federal em Santa Catarina (SINPRF-SC). Siga-o pelo site Teologia do Pobre, pelo Twitter, YouTube e/ou pelo Instagram.