Assimilação acrítica da Inteligência Artificial.

Assimilação acrítica da Inteligência Artificial.

Vivi para ver o domínio do Mundo sendo entregue à Inteligência Artificial (IA). Ao contrário do que você possa incialmente pensar, não sou contra o desenvolvimento e aproveitamento da tecnologia. Sou contra sua assimilação acrítica. Não devendo ela ser um fim em si mesma, é preciso sempre se perguntar a que interesses tais recursos estão subordinados, a quem eles servem.

Inicialmente me espanta essa transferência da capacidade decisória para uma máquina. Que existam sistemas que apoiem a decisão, analisando uma quantidade infinda de dados, é bem pertinente. Agora, o que dizer do Lavender, sistema que o Moderno Estado de Israel faz uso e que tem poder de vida e morte sobre os outros? Basta uma simples associação cadastral ou presença comum em certas redes para que tal sistema lhe marque como potencial perigo e promova, tão logo seja possível sua eliminação. Lembro que a IA é por definição (e limitação) sociopata por “natureza”, uma vez desprovida de compaixão, de empatia.

Verdade é que tal sistema não é muito diferente dos sociopatas investidos de poder. No entanto, a favor dos últimos, há uma chance de que um resquício de humanidade, ou mesmo que um feixe de luz alcance tais corações uma vez no poder. Tal esperança não encontra correspondente na IA.

De igual modo é preocupante o aproveitamento acrítico da IA na educação. Que ela seja usada para correção de trabalhos, parece bom e justo, especialmente pelo fato de liberar o tempo dispendido pelo professor em tais tarefas. Agora, substituir o papel do educador... o que queremos como sociedade, afinal? Indivíduos somente informados ou uma coletividade bem formada? Educação não se resume a uma mera transmissão de conhecimento/ educar envolve a formação do caráter e dos valores, muitos dos quais são transmitidos nas trocas, no compartilhar de experiências em sala de aula e no convívio escolar. Preocupa uma sociedade que se projeta e vislumbra seu futuro como robotizada, autômata, e não autônoma.

Educar é desenvolver a capacidade crítica do educando, o que torna a educação uma tarefa de risco para o próprio educador. Ora, uma vez crítico, o pensamento se volta também contra aqueles e aquelas que ensinaram a pensar, movimento este vital para que se processe o rompimento do cordão umbilical visando alcançar a autonomia, a emancipação do indivíduo.

Outrossim é a expectativa de supressão de postos de trabalho. Ora, isto deve ser feito com planejamento para que os ganhos pecuniários com tais medidas não tenham que retornar para a economia sob taxação governamental. Esse movimento do capitalismo não faz o menor sentido, além de ser promotor da indignidade humana. A verdade é que antes da IA já existia uma máquina maior, que mói, dia sim e outro também, a classe trabalhadora.

Termino esta coluna lembrando da distante Skynet da trilogia O Exterminador do Futuro. Se há que ter um domínio sobre o mundo, que seja o humano. Com todas suas imperfeições, limitações e inclinações para o mal, ainda é mais seguro que estejamos no controle. Afinal, sempre resta uma esperança de que o mais vil seja tomado por um ato de pura bondade em uma inesperada ocasião, expectativa esta que, por motivos óbvios, não se pode depositar sobre as máquinas. Arnold Schwarzenegger que nos diga.


Pr. Dr. Sérgio Ricardo Gonçalves Dusilek é Mestre e Doutor em Ciência da Religião (UFJF/MG); Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Filosofia da Religião, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF/MG); Pesquisador em Estágio de Pós-Doutorado pela UEMS (Bolsista CAPES); Pastor na Igreja Batista Marapendi (RJ/RJ); Professor do Seminário Teológico Batista Carioca. Autor de Bíblia e Modernidade: A contribuição de Erich Auerbach para
sua recepção e co-organizador de: Fundamentalismo Religioso Cristão: Olhares transdisciplinares; O Oásis e o Deserto: Uma reflexão sobre a História, Identidade e os Princípios Batistas; e A Noiva sob o Véu: Novos Olhares sobre a participação dos evangélicos nas eleições de 2022.