Benefícios e perigos do uso das redes sociais por evangélicos

Um dos fenômenos sociais, políticos e econômicos mais impactantes do nosso tempo, a presença crescente da tecnologia e das redes sociais na vida humana têm sido verificada também entre os segmentos sociais mais desprotegidos, dentre os quais se encontram muitos evangélicos . Ao longo dos últimos meses, com surpresa pude acompanhar esse processo de perto, pois recentemente, com a implementação da internet no povoado da zona rural baiana onde resido e trabalho como pastor, nossa igreja tomou a iniciativa de ocupar o espaço virtual por meio da criação de um grupo de WhatsApp. Desde então, tenho observado como tem sido incrível a força desse espaço virtual entre os evangélicos de nossa denominação. Com a criação do grupo de WhatsApp, as interações virtuais entre os frequentadores da igreja logo se tornou muito intensa.

A primeira coisa que gostaria de sublinhar, algo que imagino poder ser aplicado a muitas igrejas, é a motivação religiosa que incentivou a entrada da nossa igreja no mundo virtual. A princípio, fomos guiados pelo interesse de disseminar as práticas e os pensamentos religiosos. A dinâmica que se estabeleceu entre os fiéis, no entanto, logo revelou efeitos positivos não previstos, sendo o mais promissor deles verificado no papel democratizador desempenhado pelo uso das redes. No espaço delas, todo religioso, não apenas o líder, passou a deter o poder de falar o que pensa e o que sente. Evangélicos que antes não tinham voz, encontraram nas interações virtuais a oportunidade de serem finalmente ouvidos.

Todavia, esse benefício veio acompanhado de preocupações. Sabemos que juntamente com o volume intenso de informação, proliferam por aplicativos como WhatsApp e Telegram todo tipo de desinformação. Num curto espaço de tempo, foi possível observar a facilidade com que discursos que propagam uma ideologia religiosa ultraconservadora e politicamente acrítica se infiltram entre os fiéis. Por essa razão, muitos poderiam avaliar que o fenômeno das fake news anularia os efeitos benéficos das redes sociais para a democratização das relações entre evangélicos. Penso, no entanto, que esse perigo poderia ser encarado também como uma oportunidade.

A circulação de notícias, sejam elas falsas ou verdadeiras, alimenta debates e discussões nos espaços digitais frequentados pelos evangélicos. Precisamente aí eu enxergo uma porta aberta para o ação de esclarecimento que o líder religioso deveria realizar. A ideia central é a de que o debate no espaço digital permitiria ao líder combater a desinformação.

Confesso que tenho procurado exercer esse papel. Quando presenciamos casos de circulação de notícias falsas no grupo de nossa igreja, procuro, da maneira mais respeitosa, demonstrar a improcedência ou a parcialidade de uma dada informação, ou então o modo como ela foi descontextualizada para servir a determinada ideologia. Esse tipo de trabalho, que eu imagino que venha sendo realizado por muitos outros pastores, exige um cuidado na escolha da melhor estratégia, pois além da desinformação em si, muitas vezes predomina nos espaços religiosos uma cultura que não incentiva no evangélico o olhar crítico sobre a vida e a política.

Há pouco tempo, eu não imaginava que as redes sociais fossem tão abrangentes e poderosas em sua capacidade de alcançar as camadas quase esquecidas da população desprotegidas. Junto com o lado positivo desse processo, os riscos de proliferação de desinformação trouxe para as igrejas e líderes evangélicos um desafio que, se enfrentado devidamente, poderia contribuir não só para o combate à desinformação, mas também para a valorização dos pilares democráticos.