Bolsonaro inelegível e possível candidatura de Michelle Bolsonaro

Bolsonaro inelegível e possível candidatura de Michelle Bolsonaro

“Nosso sonho segue mais vivo do que nunca. Estou às suas ordens, meu CAPITÃO”. Essas foram as palavras de Michelle Bolsonaro após julgamento que torna Bolsonaro inelegível pelos próximos oito anos. A fala de Michelle remete à uma possível candidatura ao pleito eleitoral de 2026, considerando que Bolsonaro não poderá se candidatar.

Embora Bolsonaro tenha afirmado em entrevista que Michelle “não está pronta”, a candidatura da ex primeira dama é uma possibilidade que pode colocar em cena uma personagem que vem ganhando cada vez mais força e popularidade, principalmente entre as mulheres evangélicas.

Michelle Bolsonaro gera uma identificação e consequentemente uma certa simpatia por parte de mulheres comuns, como donas de casa que nem sempre se sentem representadas pelo feminismo ou movimentos de esquerda. Essa identificação se dá principalmente no meio evangélico, na qual acredita-se que a partir da orientação bíblica a mulher deva auxiliar, ajudar, colaborar, uma vez que Deus decretou que a mulher fosse alguém que cuida do lar, assim como faz Michelle.

Nesta semana, a ex-ministra e atual Senadora Damares Alves publicou em sua rede social um vídeo de Michelle Bolsonaro discursando para milhares de pessoas. Em sua fala, Michelle afirma que é “uma mulher que tem como agenda principal sua família, seus filhos e marido”, neste momento Bolsonaro aparece no telão emocionado e o público vibra animado. Michele continua sua fala dizendo que gosta de fazer política, mas “gosta também de chegar em casa e fazer comida para o marido”, e se questiona “que mal isso tem?”.

Falas como esta repercutem de forma eficaz no imaginário de muitas mulheres que tem essa mesma rotina, e que após um dia inteiro de trabalho, chegam em casa e cozinham para suas famílias, assim como Michelle.

Michelle é uma mulher branca, que ocupa um estrato social privilegiado, vaidosa e com boa aparência, apresenta uma postura firme e decidida, mas reforça constantemente sua posição de submissa ao marido e cuidadora da família. Esse traço se alinha diretamente a um valor muito acionado no meio pentecostal: a mulher enquanto organizadora da vida em família, mediadora, cuidadora e que soluciona os problemas e equilibra a pulsão agressiva do homem, colocada sempre como algo natural e não socialmente construído.

Michelle atua exatamente com alguém que exerce esta função, como uma mulher moralmente boa, que dá conta de tudo, organizadora, autônoma, responsável pelos filhos e que segue regras de etiqueta: como uma mulher perfeita. Dessa forma, Michelle mobiliza um ideal de mulher que pode funcionar tanto como identificação, como inspiração para muitas mulheres que buscam um ideal a ser atingido dentro dos valores cristãos. Nesse sentido, Michelle pode vir a representar para estas mulheres alguém que tem potencial para atuar como uma boa líder política, representando os valores da família de uma forma mais delicada do que Bolsonaro fez.

Em discursos passados, Michele se pronunciou em algumas ocasiões pedindo que as mulheres olhassem para ela, e não para Bolsonaro, uma vez que ele era impulsivo e falava palavrões, mas ela sim era equilibrada e sensata. Muitas mulheres votaram em Bolsonaro querendo votar em Michelle. Por isto, caso Michelle se candidate, pode ter grande poder de mobilização de votos, principalmente entre mulheres evangélicas.

Considerando que os evangélicos são o grupo religioso que mais cresce no Brasil e já somam quase 30% da população, em sua maioria mulheres, a forma com que Michelle Bolsonaro aciona a identidade evangélica pode ser algo importante a ser observado no decorrer dos próximos anos.

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Manuela Löwenthal é Doutoranda em Ciências Sociais pela UNIFESP, pesquisa temas vinculados à Religião e Política no Brasil. Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista (2012), onde também obteve o título de mestre. É pesquisadora  do projeto Temático "Religião, Direito e Secularismo: A reconfiguração do repertório cívico no Brasil contemporâneo", financiado pela FAPESP.  Atua também como Professora de Sociologia na Rede Estadual Paulista.