Carnaval e tradições culturais brasileiras vivem conflitos com evangélicos

Carnaval e tradições culturais brasileiras vivem conflitos com evangélicos
Alegoria com referência a Cosme e Damião, no desfile da Grande Rio em homenagem a Zeca Pagodinho. Créditos: Mauro Pimentel

O avanço da religião evangélica no Brasil tem desencadeado uma série de transformações nas dinâmicas culturais do país, especialmente em contextos onde manifestações populares tradicionais estão enraizadas, como o Carnaval e o maracatu em Pernambuco. A migração de membros dessas comunidades para igrejas evangélicas, muitas vezes pentecostais ou neopentecostais, tem gerado um impacto significativo na composição e na identidade dessas expressões culturais.

Um exemplo disso é a observação de uma mudança gradual no perfil das agremiações carnavalescas, como as escolas de samba, que têm visto uma diminuição no número de integrantes oriundos de suas comunidades tradicionais, como as baianas, devido à conversão para o evangelicalismo. Essa perda de membros tem levado as escolas a buscar novas fontes de participação, muitas vezes recrutando pessoas de fora da comunidade ou até mesmo de outras localidades, o que pode comprometer a autenticidade e a coesão cultural dessas agremiações.

Além disso, os conflitos entre a prática religiosa evangélica e as tradições culturais afro-brasileiras têm se manifestado de diversas formas, desde a recusa em usar trajes típicos, como no caso das baianas de acarajé, até tentativas de dessacralizar elementos tradicionais, como o próprio acarajé, associado a rituais do candomblé. Esses embates evidenciam não apenas questões religiosas, mas também questões identitárias e raciais, refletindo um contexto mais amplo de intolerância e conflito cultural na sociedade brasileira.

Por outro lado, o avanço evangélico também tem influenciado o próprio Carnaval, com o ressurgimento de enredos que abordam temas afro-brasileiros e referenciam tradições religiosas de matriz africana. Essa tendência pode ser vista como uma resposta às mudanças sociais e culturais provocadas pela expansão do evangelicalismo, uma forma de reafirmar e valorizar a diversidade cultural e religiosa do Brasil em meio a um contexto de crescente homogeneização cultural.

Assim, o avanço do evangelicalismo no Brasil não apenas transforma as práticas religiosas e culturais das comunidades afetadas, mas também desencadeia debates e conflitos que evidenciam as complexas dinâmicas sociais e identitárias do país.

A matéria completa pode ser lida na Folha de São Paulo.