Como está a relação entre Bolsonaro e os evangélicos?

Como está a relação entre Bolsonaro e os evangélicos?

Evangélicos têm evitado se manifestar sobre política e especialmente sobre o ex-presidente Bolsonaro, que está sendo julgado e pode ficar inelegível por 8 anos. Evangélicos, acadêmicos e acadêmicos evangélicos analisam como está a relação entre esse setor e o ex-presidente.

Continua forte: Vou usar até uma uma metáfora bíblica: Bolsonaro falou ao coração dos evangélicos como nenhum outro personagem político. Então acho que o bolsonarismo não passou. E ele abre caminho para outros que devem continuar crescendo. Dallagnol talvez esteja em primeiro nessa fila, e o deputado Nikolas Ferreira. (Socióloga e cientista política Carla Ribeiro Sales, Igreja Batista)

Continua grande, mas não têm mais a máquina: Parte desse apoio evangélico que o Bolsonaro teve no primeiro pleito e no segundo pleito, tende a cair um pouco porque ele não tem mais a máquina na mão. Ele tinha a caneta na mão. A quantidade de auxílio que ele deu para igrejas ajudou a compensar muito possíveis perdas de voto que ele teria em decorrência da pandemia da gestão errada da pandemia. Agora, muitos pastores e a base de grande parte da bancada evangélica no Congresso depende de verbas do governo federal, liberação de emendas e tal. E isso sempre afetou a capacidade da oposição de arregimentar e de manter a sua base unida em torno de um candidato. O que não quer dizer que o Bolsonaro deixou de ser um grande líder para a direita. Ele ainda é o grande líder. Ele é o cara que tem a maior transferência de votos ainda da oposição. Mas ele está com a imagem e com a capacidade de arregimentar apoio e mobilização prejudicada.(Cientista político Miguel de Souza, Igreja Presbiteriana)

Pragmatismo: Na minha visão é aquele fenômeno “rei morto, rei posto”. Não me parece o abandono do bolsonarismo, mas apenas a consciência que o Bolsonaro perdeu poder. (Gutierres Siqueira, jornalista e evangélico)

Igrejas estão se afastando da política: Acredito que a presidência do Lula vai recuperando os benefícios de uma separação mais harmoniosa entre religião e Estado. Aos poucos vai caindo a ficha para os crentes que o preço a se pagar por uma ligação tão estreita entre igreja e um determinado representante político, como foram os anos de Bolsonaro, talvez seja alto demais. (Sociólogo Valdinei Ferreira, Igreja Presbiteriana Independente)

Em busca de um substituto: Todos com os quais eu converso entendem que Bolsonaro foi o culpado por perder a eleição, por ser briguento, falar muito, ter se posicionado contra a vacina. Mas em tres anos, acredito que apoiarão a pessoa que ocupar essa posição de quem defende valores conservadores, que certamente será alguém de direita. (Pastor Marcos Botelho, Igreja Presbiteriana)

O substituto também será de direita: Já não tem como separar fé e política, poucas igrejas hoje ainda fazem isso. Está enraizado que a direita representa os valores da fé cristã. Ficou Machado, é um longo caminho para reverter isso, e não vai acontecer em 3 anos. Então, se 70% dos evangélicos votaram em Bolsonaro nas ultimas eleições, acredito que algo semelhante vai acontecer com o proximo candidato da direita que disputar a eleição presidencial. (Pastor Marcos Botelho, Igreja Presbiteriana)
Não há substituto no curto prazo: O apoio politico do eleitor evangélico tenderá a se dispersar no curto prazo. O ex-presidente construiu seu posicionamento desde 2015, 2016. Foi um processo lento. Ele foi sendo testado e também foi aprendendo a se relacionar com líderes e com esse público. Por isso, não vejo um nome que substitua de imediato. (Samuel Gandara, historiador e evangélico)

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Juliano Spyer é antropólogo, pesquisador do Cecons/UFRJ, autor de Povo de Deus (Geração 2020) e criador do Observatório Evangélico.