Como o trabalho híbrido, o culto híbrido também veio para ficar

Como o trabalho híbrido, o culto híbrido também veio para ficar

Quase três quartos das igrejas americanas já oferecem o modelo híbrido de culto, ou seja, presencial e “live”, em sua versão on-line, comparado a apenas 20% em 2019, antes da pandemia. O dado faz parte de uma pesquisa feita pelo Hartford Institute for Religion Research da Hartford International University for Religion and Peace, divulgada pelo site Religion Unplugged. Tem base em 4.809 entrevistas dentre 58 grupos denominacionais cristãos, feitas nos primeiros cinco meses deste ano. O estudo compara resultados de três relatórios anteriores do verão de 2021, inverno de 2021 e primavera de 2022. Scott Thumma, que dirigiu o projeto, afirmou ao Religion Unplugged que “As igrejas, especialmente o clero, continuam numa fase de recuperação. Embora alguns aspectos da vida da igreja estejam se recuperando, o destino de muitas comunidades de fé ainda é incerto”.

Segundo a pesquisa, no geral, a frequência nas igrejas caiu 9% em 2023 comparado a 2020. Em mais de 50% das igrejas, a soma da frequência on-line e presencial está menor, mas em 33% delas o número de participantes nos cultos está aumentando, sendo que 16% afirmam serem novos na congregação. O relatório também concluiu que quanto “mais uma igreja enfatiza as doações on-line e eletrônicas, maior é o aumento das suas doações per capita”.  Igrejas sem sistema de captação de ofertas on-line registram uma doação anual per capita de US$ 1.809, enquanto que aquelas que possibilitam “muito” esse tipo de oferta têm doações per capita de US$ 2.428 - quase 30% a mais.

E o que isso tem a ver com as igrejas evangélicas brasileiras?

Tem tudo a ver, embora não tenhamos acesso a um estudo tão aprofundado quanto o do Hartford Institute. Sabidamente, é grande o número de igrejas enfrentando dificuldades financeiras por conta da queda da frequência presencial dos fiéis após os lockdowns pandêmicos. Muitas igrejas passaram a oferecer cultos on-line, mas nem sempre a pessoa que participa de uma celebração no conforto de sua casa se sente impelida a ofertar dinheiro para a igreja como faria se estivesse fisicamente presente na congregação.

Esta, por si, já não seria uma boa sugestão de pauta?

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Marília de Camargo César nasceu em São Paulo, é casada e tem duas filhas. Jornalista, é editora-assistente de projetos especiais do Valor Econômico, maior jornal de economia e negócios do Brasil. É também autora de livros que provocam reflexão nas lideranças evangélicas. Suas obras mais conhecidas são Feridos em nome de Deus, Marina — a vida por uma causa e Entre a cruz e o arco-íris.