Descriminalizar a maconha é uma agenda “satânica”?
O Supremo Tribunal Federal caminha, ao que tudo indica, para descriminalizar o porte de maconha para uso pessoal, retirando as sanções penais a quem carrega a droga para consumo próprio. O tema é polêmico e há, também entre evangélicos, defensores dos prós e contras da descriminalização.
Uma das vozes contrárias é a da psicóloga clínica cristã Marisa Lobo, que já causou controvérsia ao ter seu registro profissional ameaçado de cassação por denúncias de fazer proselitismo religioso em consultório. Ela reflete a visão de muitos evangélicos e escreveu artigo sobre o assunto em que cita posicionamento recente do Conselho Federal de Medicina e Associação Brasileira de Psiquiatria. O CFM e ABP divulgaram nota para criticar a descriminalização: a maconha, “mesmo sob alegação ‘medicinal’ – representa riscos à saúde de forma individual e coletiva. Trata-se de droga que causa dependência gravíssima, com importantíssimos danos físicos e mentais, inclusive precipitando quadros psicóticos (alguns não reversíveis) ou agravando sintomas e a evolução de padecentes de comorbidades mentais de qualquer natureza, dificultando seu tratamento, levando a prejuízos para toda a vida”.
Para Marisa, que criou o movimento “Maconha Não”, liberar o consumo da droga é uma agenda maligna. “Maligna, sim, porque tudo que produz destruição não pode partir de outra coisa, senão do maligno. Legalizar o consumo da maconha não inviabiliza o tráfico e não faz diminuir o uso da droga. O que faz, isto sim, é potencializar os prejuízos sobre a saúde mental da sociedade, favorecendo a criação de uma geração de jovens doentes física e emocionalmente.”
Juliano Spyer, criador deste Observatório Evangélico, já escreveu sobre o tema em sua coluna na Folha de S.Paulo. Ali, conta que, em 2020, coordenou “realização de um estudo sobre hábitos de consumo entre evangélicos a partir de amostra representativa da população brasileira”, incluindo perguntas sobre produtos à base de maconha. “Evangélicos majoritariamente rejeitam o uso recreativo da maconha. Ao todo, 76,3% responderam ser contrários à legalização da cannabis para essa finalidade. Mas o sentimento muda quando perguntamos sobre aplicações na medicina. Mais da metade (52%) dos participantes evangélicos disse concordar com o uso controlado de substâncias extraídas da planta para tratamentos de saúde”, escreveu Spyer.
Para apurar: O que pensa o CPPC - Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos sobre esse tema? Que lideranças, igrejas ou pastores defendem ou se contrapõem à descriminalização de consumo pessoal de maconha. Quais deles diferenciam os produtos à base de CBD como medicamentos válidos para tratamentos de saúde.
*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.
Marília de Camargo César nasceu em São Paulo, é casada e tem duas filhas. Jornalista, é editora-assistente de projetos especiais do Valor Econômico, maior jornal de economia e negócios do Brasil. É também autora de livros que provocam reflexão nas lideranças evangélicas. Suas obras mais conhecidas são Feridos em nome de Deus, Marina — a vida por uma causa e Entre a cruz e o arco-íris.