E eu também não sou uma mulher? A solidão da mulher negra evangélica

E eu também não sou uma mulher? A solidão da mulher negra evangélica

Este pequeno texto não tem como objetivo de se comportar como  um artigo, ele é apenas um relato de uma mulher negra evangélica, mais especificamente neopentecostal. O mesmo também não se propõe a respeitar os limites da linguagem padrão, justamente, porque este desrespeito aos limites é o que produz a possibilidade de fluidez desta escrita, fazendo com que ela se torne mais vívida.
Os  dados do Censo de 2010 apontam que as mulheres negras são as que menos se casam, isto é, são as que menos são assumidas de forma oficial no que tange aos relacionamentos matrimoniais. A Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que 52,89% das mulheres solteiras no Brasil são negras. Poderiamos dizer que tal fato se dá como herança do processo de embranquecimento que mais do que embranquecer a pele, embranqueceu a mente de muitos negros, fazendo assim com que se criasse na população negra o desejo por se ter pares brancos. Já que estes eram vistos com mais bonitos e atraentes do que os negros,  sobretudo tal pensamento ganhou força total entre os homens negros, mais do que nas mulheres. Justamente, porque o patriarcado alimentado pelo racismo escolheu a mulher branca como um troféu a ser cobiçado . Assim, os mesmos nascidos e criados por mulheres negras, ao crescerem passam a preterir outras mulheres negras no que se refere a relacionamentos amorosos.
As razões deste preterimento são inúmeras, contudo sabemos que esse tipo de pensamento não ficou restrito apenas aos meios seculares, tal pensamento se faz presente em inúmeras igrejas evangélicas espalhadas pelo Brasil. Nestas mais de duas décadas de minha vida, pude perceber que as mulheres negras de minha igreja eram as que mais compunham o número de solteiras dentro do contingente de fiéis. As mesmas também eram as menos escolhidas para se casarem com os pastores ou obreiros. Sabemos que tudo isso não é coincidência, e sim a solidão da mulher negra se reproduzindo em diferentes espaços, até mesmo naqueles que dizem que somos todos iguais, pois somos filhos de Único Criador.

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Mônica Ruiz é antropóloga, mulher preta e evangélica neopentecostal.