É o algoritmo, estúpido

Amazing Grace, o sucesso do hino cristão do calvinista John Newton; as profecias bíblicas inscritas no filme "Deixados para trás"; evento ecumênico na PUC/São Paulo; a fake news de Deltan Dallagnol sobre a PL das fake news.

É o algoritmo, estúpido
Deputado Deltan Dallagnol. Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Maravilhosa Graça, 250

Andrea Boccelli, Aretha Franklin, Alan Jackson (cantor country americano), Whitney Houston, Pentatonix, Il Divo e, meu preferido, Elvis Presley. São apenas alguns dentre os três mil cantores ou grupos musicais que já gravaram “Amazing Grace”, um dos mais lindos hinos cristãos jamais compostos, e que completa 250 anos em 2023.

Escrita por John Newton, um senhor de escravos inglês que se converteu e se tornou um abolicionista influente, a canção transcendeu o universo religioso/cristão e já foi usada como trilha de séries de TV e filmes, sendo até cantada pelo então presidente dos Estados Unidos Barack Obama durante a cerimônia fúnebre realizada para as vítimas de um tiroteio de Charleston, Carolina do Sul, em 2015. Segundo o jornalista Steve Turner, autor de “Engolidos pela cultura pop”, é muito significativo que uma música confessional escrita por um calvinista inglês tenha alcançado uma posição tão duradoura em nossa cultura, especialmente em uma época em que há muito ressentimento em relação ao cristianismo.” Turner foi entrevistado pela Revista Ultimato e a matéria pode ser acessada neste link:

https://www.ultimato.com.br/conteudo/amazing-grace-250-anos-do-hino-que-foi-muito-alem-dos-circulos-cristaos?utm_source=akna&utm_medium=email&utm_campaign=Boletim-Ultimas-651-AB

Para apurar:

· Intérpretes mais famosos que gravaram Amazing Grace e números de download nos aplicativos de música.

· Impacto da canção nos dias de John Newton, perfil do autor do hino, histórico de sua conversão.

· Que outros hinos cristãos antigos foram interpretados por cantores contemporâneos e quais os mais gravados, depois do clássico Amazing Grace.

Fim do mundo, ou quase

Em cartaz desde a última quinta-feira, 27/4, o filme “Deixados para trás – o início do fim”, dirigido e estrelado por Kevin Sorbo, é o mais recente da franquia baseada nos livros dos americanos Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins. A série de livros vendeu mais de 70 milhões de exemplares e foi traduzida para 34 idiomas, segundo a editora Tyndale.

O tema principal é o fim do mundo, processo que começa com o sumiço de milhões de pessoas do planeta, episódio que a Bíblia denomina “arrebatamento” (rapture, o termo usado nos livros). Os livros estão baseados na visão chamada pelos teólogos de ‘dispensacionalista’, que interpreta as profecias bíblicas contidas nos Evangelhos e no livro do Apocalipse como um mapa cronológico do final dos tempos, uma sequência de acontecimentos dramáticos que culminará no retorno de Jesus Cristo à terra, conforme prometido por ele mesmo em Mateus, capítulo 24.

Para apurar

· Qual o tamanho da indústria evangélica de filmes no mundo? Por que há tantos filmes ruins, com atores sofríveis e roteiros quase infantis?

· A indústria cinematográfica brasileira esnoba os filmes evangélicos? Que produções formam a indústria regional de cinema evangélico? Qual o público potencial?

· A TV Record, com suas novelas baseadas em histórias da Bíblia, pode ser considerada a maior produtora de filmes evangélicos do Brasil? E qual a audiência de suas novelas?

PUC ecumênica

Em tempos de intolerância crescente e extremismos, um encontro em São Paulo promete um diálogo civilizado entre as mais diversas correntes religiosas.

O Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo/PUC-SP (Labô) fará no próximo dia 8/5 um megaevento para debater “Mercado e Religião”. Será às 19h no Tucarena (Teatro da PUC de São Paulo, no Campus Perdizes). Estarão dialogando sob a mediação de Luiz Felipe Pondé, diretor acadêmico do Labô, líderes como mãe Paula de Yansã, pastor Ed René Kivitz, rabino Adrian Gottfried, sheikh Mohamad Al Bukai, padre Diego Willian dos Santos e rabina Fernanda Tomchinsky.

A proposta do evento é discutir como as redes sociais impactam o mundo religioso e se é possível contemplar as diferentes espiritualidades pelo viés do marketing e do mercado.

Imperdível. Informações e inscrições pelo email: labo@pucsp.br

É o algoritmo, estúpido

O deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR) ‘causou’ nas redes nos últimos dias ao postar que a “fé será censurada” caso o PL 2.630, chamado PL das fake news, seja aprovado. Ele argumentou que “alguns versículos bíblicos serão banidos das redes sociais”, por exemplo, passagens como a de Efésios 5, que falam do dever da mulher de ser submissa ao homem.

Segundo a matéria da Lupa, as publicações compartilhadas por Dallagnol e outros parlamentares da frente evangélica “afirmam que ao menos 11 versículos seriam banidos das redes. Em sua maioria, são trechos sobre mulheres e homossexuais. Entretanto, não há nenhuma menção a esses versículos, ou a qualquer trecho bíblico, em qualquer uma das versões oficiais do texto que circularam na Câmara ou no Senado.”

Em nota enviada à Lupa, Dallagnol diz que está baseado em artigo do PL que inclui crimes de discriminação ou preconceito e violência de gênero como conteúdos potencialmente ilegais nas redes. “O PL 2.630/2020 acarretará em restrições indevidas da liberdade religiosa ao prever a remoção de conteúdo religioso que possa ser enquadrado como preconceito, discriminação ou violência de gênero, uma vez que o trabalho de moderação e retirada de conteúdo de maneira preventiva será realizado por inteligências artificiais e algoritmos, os quais serão incapazes de analisar subjetivamente o conteúdo que veicular os versículos bíblicos exemplificados”, diz a nota.

Esse assunto certamente seguirá quente nas próximas semanas e vale a pena continuar acompanhando.

Para apurar:

· O que dizem os especialistas em inteligência artificial sobre os argumentos de Dallagnol?

· Existem outros países que legislaram sobre conteúdo religioso das redes? Quais os exemplos e como ficaram essas legislações?

* Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Marília de Camargo César nasceu em São Paulo, é casada e tem duas filhas. Jornalista, é editora-assistente de projetos especiais do Valor Econômico, maior jornal de economia e negócios do Brasil. É também autora de livros que provocam reflexão nas lideranças evangélicas. Suas obras mais conhecidas são Feridos em nome de Deus, Marina — a vida por uma causa e Entre a cruz e o arco-íris.