Educação sexual preocupa mais evangélicos que aborto ou drogas

O grande medo dos evangélicos hoje - e aqui entra o efeito do fakenews exagerando e distorcendo a realidade - é que a infância será atingida caso o presidente eleito não defenda claramente o modelo de família tradicional, constituída a partir da união entre um homem e uma mulher.

Algumas fake news que circulam em grupos evangélicos argumentam que a escolha de qualquer candidato que não seja Bolsonaro conduzirá à implantação de uma "ditadura gayzista". (Esse é o termo que eles usam!) A mensagem é que qualquer presidente que não defenda a família tradicional, apoiará ou fará vistas grossas para a “doutrinação” nas escolas da ideia de que homens podem se casar com homes e mulheres com mulheres para as crianças e adolescentes.

Esse é, no meu entendimento, o ponto mais sensível para os eleitores evangélicos hoje, porque, no contexto atual, há pouco receio de que haverá mudanças significativas em relação as leis sobre temas como aborto e drogas. Mas o tema das escolas é o flanco que está aberto.

Nesse sentido, se um candidato conseguir demonstrar que esse risco em relação às escolas não é real, ele reduz a desconfiança de uma parcela considerável de evangélicos.

No meu entendimento, portanto, a "barganha" dos candidatos para manterem-se em diálogo com conservadores e liberais do ponto de vista dos costumes será dizer que a democracia defende as liberdades individuais de todos os cidadãos. Por exemplo, uma pessoa não pode ser perseguida por sua religião nem por sua sexualidade. Ao mesmo tempo, o candidato deve esclarecer como entende que os currículos escolares devem ser em relação ao tema do ensino sobre sexualidade.

Foi isso que o ex-ministro Sergio Moro fez na “Carta de Princípios Cristãos”: prometeu “preservar crianças e adolescentes da sexualização precoce” e respeitar “as preferências afetivas e sexuais de cada indivíduo”.

Fora esse tema, que se tornou especialmente sensível para os evangélicos no Brasil, muito por conta das fake news, entendo que a questão econômica (aumento dos preços, diminuição do poder de consumo, desemprego e outros), diferentemente de 2018, será mais determinante do que as pautas morais.

Vou dar um exemplo de um caso que presenciei e que considero positivodo ponto de vista retórico. No ano passado, o pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, fez uma reunião com pastores. Ele falou que tem uma família nos moldes tradicionais, mas que, como presidente, ele pretende governar para todos. E citou durante a conversa a situação da violência contra travestis. O Brasil, ele disse, está entre os países em que há o maior número de assassinato de travestis, e que o país não pode fechar os olhos para esse tipo de crime.

Esse caminho - o do diálogo, o da demonstração de empatia e respeito por todos - reduzirá a aderência de teorias da conspiração que circulam, e, dessa forma, as campanhas ganham espaço para falar sobre aquilo que está ferindo todos no país: o preço da gasolina, o desemprego etc.

É claro que há os mais fieis e irredutíveis. Todavia, os eleitores evangélicos da "fronteira", os quais estão chateados com o desequilíbrio econômico, poderão ser alcançados, caso os outros candidatos consigam modelar discursivamente respeito à sensibilidade evangélica e defesa da vida).