Fascínio por armas é fruto do alinhamento com Bolsonaro

Dentre as matérias veiculadas pela imprensa sobre a Marcha Para Jesus que aconteceu no último dia 23, em Vitória, no Espírito Santo, a maioria repercutiu a réplica de uma enorme arma ostentada por um dos participantes do evento. O caso trouxe à tona o debate sobre qual deveria ser o posicionamento das igrejas a respeito do porte de armas de fogo. A meu ver, quando pensada desde o terreno evangélico, essa problemática aponta para a identificação do religioso com o presidente Bolsonaro, figura que esteve presente nessa e em outras Marchas Para Jesus ocorridas neste ano.

Pelo que eu acompanhei, para alguns evangélicos o fascínio por armas surgiu como consequência da ascensão do bolsonarismo. Para outros isso ocorreu até antes, sob a influência de Olavo de Carvalho entre os evangélicos, figura conhecida por defender a liberdade irrestrita ao porte de armas, além de outras bandeiras típicas da extrema-direita norte-americana. A expansão desse movimento de identificação do evangélico com esses políticos poderia sugerir que, de maneira geral, o apoio ao porte de armas estaria proliferando no meio evangélico. Entretanto, não me parece ser esse o caso.

As mulheres evangélicas, especialmente da periferia, por exemplo, não têm nenhum fascínio por armas. Esse é um fascínio muito específico, normalmente presente entre os jovens de classe média alta, até porque a arma de fogo é um objeto bem caro que poucos brasileiros têm condições de comprar. Ao mesmo tempo, que pese a posição daqueles evangélicos e evangélicas que têm razões concretas para criticar o armamento, o porte de arma se mostra hoje um debate central para o meio evangélico.

Acredito que esse debate deva esclarecer como o fenômeno do fascínio pelas armas entre evangélicos está permeado por muitas camadas que englobam a dinâmica de toda a sociedade. Ou seja, o evangélico, nesse sentido, é antes o sujeito que participa daqueles segmentos mais radicalizados, mais próximos do discurso de Bolsonaro, sem deixar de ser evangélico. Pelo o que observei na minha experiência, essa identificação do evangélico pelas armas e por outras bandeiras bolsonaristas raramente surge no espaço das igrejas. Nunca vi essa pauta ser debatida, ser defendida ou criticada, em qualquer igreja, como deveria ser, sobretudo quando presenciamos o fascínio pelas armas ocupar o espaço de uma marcha religiosa.