Feministas cristãs escrevem carta contra cassação de deputadas

Feministas cristãs escrevem carta contra cassação de deputadas

Na última semana, o Partido Liberal entrou com representação junto à câmara dos Deputados pedindo a cassação de deputadas que, durante a votação do PL 490, que tratava sobre o marco temporal para demarcação de terras indígenas, discursaram contra colegas a favor da medida. A representação foi aceita pelo presidente da casa, Arthur Lira, e inclui as deputadas Célia Xakriabá (PSOL-MG), Érika Kokay (PT-DF), Fernanda Melchionna (PSOL-RS); Juliana Cardoso (PT-SP), Sâmia Bonfim (PSOL-SP) e Talíria Petrone (PSOL-RJ). A medida gerou posicionamentos da sociedade civil, entre eles a carta de feministas cristãs, exposta a seguir:

“Quem semeia a injustiça colhe a maldade e
o castigo da sua arrogância será completo”.

Provérbios 22:8

Logo após a votação do desastroso Marco Temporal na Câmara Federal, em 31 de maio, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas), em uma manobra legislativa autoritária, encaminhou ao Conselho de Ética um pedido de cassação, orquestrado pelo Partido Liberal, contra seis deputadas. A tentativa de censura parlamentar é assinada pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto – condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em 2005 –, que alega que as deputadas quebraram o decoro parlamentar ao chamar de “assassinos” os deputados que votaram favoráveis ao Marco Temporal.

As parlamentares vítimas da censura do PL são os mandatos combativos das deputadas federais Célia Xakriabá (PSOL), Erika Kokay (PT), Fernanda Melchionna (PSOL), Juliana Cardoso (PT), Sâmia Bomfim (PSOL) e Talíria Petrone (PSOL). Todas estão na linha de frente para derrotar a agenda fundamentalista e predatória imposta nos últimos anos, que uniu grileiros, reacionários e garimpeiros, e que tem por objetivo vender nossos recursos naturais e exterminar os povos indígenas e originários, violando os Direitos Humanos fundamentais.

Nós, mulheres de fé, cristãs, feministas, apoiamos o direito de as parlamentares se expressarem nos espaços das políticas institucionais. As violências que nos espreitam, enquanto mulheres cristãs, também são as mesmas que, em diversos momentos, estruturam a trágica e violenta conformação de ataques contra a nossa frágil democracia e contra os direitos dos povos tradicionais.

Estas parlamentares foram eleitas ou reeleitas democraticamente no último pleito e rotineiramente ameaçam os discursos machistas, racistas, elitistas, LGBTfóbicos e antidireitos produzidos por aqueles que, inescrupulosamente, buscam por projetos de poder personalistas, fundamentalistas, arbitrários e que violam sistematicamente o Estado Laico.

Em pleno século XXI o machismo institucional segue invisibilizando e censurando  as mulheres de seus espaços. Os parlamentares que cometem injustiça são cercados de arrogância e agem por oportunismo ao pinçarem excertos da Bíblia como justificativa para suas ações violentas e autoritárias. Tais manobras representam para nós a extrema ignorância e desconhecimento da complexidade dos textos bíblicos, além da desqualificação de nossa carta pátria – a Constituição de 1988 que prima pelo direito à liberdade de expressão e o direito ao contraditório. São, majoritariamente, sinalizações diretas de desonestidade intelectual e de total apatia aos rastros da humanidade e de parcela da sociedade brasileira que clama por justiça aos povos originários. E, sim, o Marco Temporal é sinônimo de epistemicídio, de genocídio e de assassinato social.

Por tais razões, deixamos um convite para que unidas(os) possamos apoiar nossas deputadas que confrontam a violência do Marco Temporal. Vamos demonstrar ao Brasil como esse pedido de cassação é uma tática de silenciamento e censura imposta  pela  extrema direita, que teima em não aceitar suas derrotas ou impor, à revelia, pautas antidemocráticas que beneficiam os mesmos fundamentalistas de sempre. Não iremos permitir que calem as vozes das mulheres eleitas. Não iremos permitir a destituição de direitos dos povos indígenas. Basta de genocídio e de assassinatos de indígenas!

Se você quer fazer parte desta rede de apoio e solidariedade que visa combater a violência política de raça e gênero contra deputadas democraticamente eleitas, assine o manifesto em: https://forms.gle/1NJFd769mJWpoYHS9

Católicas pelo Direito de Decidir

Mulheres EIG -  Evangélicas pela Igualdade de Gênero

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.