Fenômeno das fake news é complexo e possui várias motivações

Fake News nada mais são do que notícias falsas que circulam pelas mídias sociais com a finalidade de manipular a opinião pública tendo como interesse decisões políticas ou econômicas. Para entender melhor este fenômeno, mobilizo um conceito importante da Psicologia Social, que é o de "dissonâncias cognitivas".

O Conceito de dissonância cognitiva significa que muitas vezes as pessoas se sentem confortáveis com a mentira e passam a utilizá-la como recurso para justificar seus pensamentos e crenças, mesmo sabendo que podem estar compartilhando algo falso.

É como se os meios justificassem os fins, e a intenção real e final fosse a difusão de ideias como forma de expandir uma opinião e cooptar adeptos a ela.

Existem pesquisas que buscam compreender a relação entre os evangélicos e as fake news, como é o caso das realizadas pelo Instituto Nutes de Educação em Ciências e Saúde da UFRJ. Em uma delas, sobre a disseminação de notícias através da rede social WhatsApp, foi observado que os evangélicos conservadores seriam um dos principais grupos a difundirem e consumirem fake news.

Considerando que muitos dos conteúdos presentes nessas mensagens visam conter os avanços de pautas progressistas pela população, faz sentido que evangélicos conservadores tendam a ser difusores dessas notícias, uma vez que temem que determinadas pautas contrárias à doutrina evangélica se expandam.

Em outras palavras, muitas vezes as pessoas sabem que o que compartilham é falso, mas mesmo assim circulam esses conteúdos, pois julgam que os fins justificam os meios.

Uma outra questão importante para pensarmos a relação dos evangélicos com as Fake News é o fato de que o conteúdo principal dessas ideias no atual contexto brasileiro reforça a construção de um opositor a ser vencido e, portanto, de uma bipolaridade política. Tal contraposição segue a mesma lógica da guerra entre Deus e o Diabo, que se faz um dos pilares de sustentação da doutrina religiosa.

Na doutrina evangélica há a crença na bipolaridade entre o bem e o mal, assim como uma ideia de que ha um inimigo constante que está a espreita para dominar ou para ameaçar o mundo.

Essa concepção bilateral vai no encontro a ideia de que há dois lados: um certo e um errado. Aquele que tem como intenção destruir a família e aquele que irá cuidar das crianças, o candidato que irá obrigar todos a serem gays e aquele que irá pregar pela tradição. Nesse sentido, as Fake News acionam concepções familiares ao universo imaginário evangélico.

Mas, para além de uma questão de estratégia ou de afinidades entre visões de mundo, há também o medo genuíno do conteúdo que a mensagem falsa divulga, que gera o dever de levá-la adiante para alertar os seus. Estamos falando, portanto, de um fenômeno complexo e que junta vários elementos.

O caminho a ser percorrido contra a desinformação e a expansão de Fake News ainda é bastante longo, e com certeza perpassa pela ciência, pela educação e pelo aprimoramento do senso crítico.