Gospel é multifacetado e enfrenta resistências até de evangélicos
Penso que a música gospel atualmente não encontra resistências somente entre a indústria cultural brasileira. No protestantismo histórico é possível observar uma oposição igual ou maior com relação a músicas do gospel de matriz pentecostal; e entre os próprios pentecostais e neopentecostais coexistem controvérsias sobre a legitimidade da indústria gospel.
Isso não ocorre somente por incompatibilidade teológica. Historicamente a hinologia cristã promovia os cânticos litúrgicos apropriados para as celebrações. Grandes denominações como as Igrejas Presbiterianas, Metodistas, Batistas, Adventistas, Assembleias de Deus, Congregação Cristã no Brasil etc. têm hinários oficiais.
Já o movimento de músicas gospel nas denominações é muito recente e refere-se à segunda metade do século XX. É caracterizado por sua forte ênfase antropocêntrica, em contraposição ao cristocentrismo presente nos hinários. É claro que, como tudo no protestantismo, a música também não é monosinfônica. Por isso, ao se referir à música gospel que engloba uma variedade de ritmos e de canções que fazem menção de Deus e da fé cristã, é possível que a indústria cultural seja na verdade resistente ao Gospel das Massas, que é mais conhecido e difundido nos veículos de comunicação e plataformas digitais. Mas há também o gospel dos "guetos" mais alinhados as tradições cristãs que mencionei.
Sobre o financiamento público, acredito que os recursos para eventos evangélicos devem seguir os mesmo critérios de qualquer fomento cultural que contemple religiões inseridas na cultura brasileira. Sem que se faça o julgamento da qualidade da arte numa espécie de darwinismo cultural.