Igrejas cometem abuso de poder religioso ao tentar influenciar eleições do Conselho Tutelar

Igrejas cometem abuso de poder religioso ao tentar influenciar eleições do Conselho Tutelar

Reportagem de sábado (30), do G1, informa que várias igrejas no Rio de Janeiro fizeram campanha em favor de candidatos às eleições para os conselhos tutelares, que aconteceram no domingo (1/10). O pleito escolheu 30,5 mil conselheiros para cuidar dos direitos de crianças e adolescentes em mais de 6 mil conselhos espalhados pelos país. A Comissão Especial da Eleição dos Conselheiros Tutelares, órgão ligado ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), responsável pela organização da votação, encaminhou mais de 50 processos administrativos sobre a suspeita de atuação irregular dos candidatos. Pastores foram filmados divulgando informações falsas e induzindo os eleitores a votarem em candidatos de seus grupos, o que é irregular e considerado abuso de poder religioso pela legislação.

Segundo o site do Extra Classe, “está acontecendo uma disputa das vagas entre os movimentos populares e as igrejas evangélicas neopentecostais como se fosse uma prévia das eleições municipais de 2024. (...) O aparelhamento dos conselhos por segmentos políticos ligados a igrejas vem sendo feito há alguns anos em todo o Brasil e tem elegido conselheiros doutrinadores de ideologias conservadoras. “Em vez de defenderem os direitos da criança submetem-nas e às comunidades em que vivem a um retrocesso.” A opinião é da doutora Ana Paula Motta Costa, vice-diretora da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e especialista em direito da Criança e do Adolescente.

Ainda segundo o Extra Classe, em Porto Alegre, evangélicos distribuíram em grupos de redes sociais 62 nomes de candidatos para a disputa das 50 vagas nas dez microrregiões. “Em vídeo que circula pelas suas redes sociais, uma pastora insiste para que cada um de seus fiéis consiga pelo menos 20 votos para candidatos de sua lista.  Ela é clara: ‘Os conselheiros tutelares são quem leva aos prefeitos as reivindicações para políticas públicas. Temos que defender os valores morais e da família. A esquerda é maioria em todos os conselhos, temos que tomar estes lugares.’”

Para apurar: quais foram os resultados desse empenho inédito dos neopentecostais nas eleições dos CT? Uma análise aprofundada do voto nesses municípios mencionados pode revelar se os esforços foram bem-sucedidos e a repercussão disso.

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Marília de Camargo César nasceu em São Paulo, é casada e tem duas filhas. Jornalista, é editora-assistente de projetos especiais do Valor Econômico, maior jornal de economia e negócios do Brasil. É também autora de livros que provocam reflexão nas lideranças evangélicas. Suas obras mais conhecidas são Feridos em nome de Deus, Marina — a vida por uma causa e Entre a cruz e o arco-íris.