Minoria radical vende homeschooling como demanda dos evangélicos
Por uma questão de transparência, me identifico já como pastor que atua como educador especializado na pedagogia de Paulo Freire. Então, meu entendimento entra em choque com essa ideia do “homeschooling”. Mas, para além da minha formação acadêmica, também escrevo como evangélico da igreja batista, que conhece de dentro e de perto a vida de familiares e amigos evangélicos, com quem convivo diariamente na minha cidade, no interior da Bahia.
O tema do homeschooling está sendo apresentado como um projeto para a educação que atende as demandas dos evangélicos, mas isso é mentira. Esse projeto representa o entendimento de um grupo pequeno e radical que, de maneira irresponsável, está promovendo suas pautas entre evangélicos pobres que não têm condições de educar seus filhos em casa.
Entendo que o projeto autoriza que o homeschooling seja oferecido por famílias – pai ou mãe – que tenham formação universitária. Mas e se esses pais não tiverem tempo disponível, por estarem empenhados em seus trabalhos, para estudar, preparar aulas e dar a atenção adequada a seus filhos? E se o diploma universitário for de uma faculdade que concede o diploma contanto que o estudante estiver com seus pagamentos em dia – como é comum hoje?
Tenho familiares que aderiram a essa visão em relação à educação, e entendo que eles estão sendo manipulados por lideranças irresponsáveis, que promovem determinados entendimentos sobre o evangelho. Em um debate muito politizado, eles promovem a ideia de que a escola desvirtua crianças e adolescentes e que, por isso, evangélicos devem ter o direito de educar seus filhos em casa.
Acontece que esse grupo minoritário e radical ainda fala sobre a masturbação ser pecado, enquanto pré-adolescentes hoje estão conversando sobre pansexualismo. Essa igreja vive em outro tempo, muito distante ideologicamente do presente. Esses arraiais evangélicos vivem na Idade da Pedra e estão cooptados por um discurso com finalidade política.
As pessoas que eu conheço aqui não têm as condições de vida que os defensores dessa pauta têm para os filhos e filhas deles. Meus Deus, quando uma pessoa aqui do interior do nordeste, independente da formação que ela tenha, poderá atuar também como professor quando economicamente ela não terá tempo para fazer isso? A consequência dessa atitude irresponsável será o prejuízo educacional das crianças e adolescentes que ficarão sem acesso às escolas.
A bandeira do homeschooling está sendo levantada como se fosse um tema abraçado pela maioria, que é complexa e heterogênia, como se o conjunto tivesse essa demanda e concordasse com isso. Mas essas pessoas vivem problemas mais graves a serem resolvidos: escolas que pararam de funcionar durante a pandemia, falta de atividades no contra turno escolar, até a carência de alimentação oferecida nas escolas.
A única coisa que nos dá um certo alento é perceber que muitas pessoas no nosso meio têm um anseio grande de conhecimento. Além desses fanáticos, muitos evangélicos amam o conhecimento e consideram a escola um privilégio, e fazem esforços para que seus filhos não apenas estudem, mas continuem estudando depois do fim do ensino médio.