Mulher evangélica pode olhar a primeira-dama como "uma de nós"

A primeira-dama Michelle Bolsonaro, no auge da pandemia, participou de muitos eventos oficiais com máscara, enquanto o seu esposo, o presidente Bolsonaro, fazia questão de não usar a proteção. Michelle também tomou vacina, ainda que no exterior, e não participou de nenhum tipo de campanha pública contra o imunizante. A primeira-dama sempre tem uma fala leve e a pauta central de suas ações políticas está na inclusão de pessoas com deficiência física, especialmente auditiva. Enquanto Bolsonaro ficará conhecido pela insensibilidade durante a tragédia da pandemia, Michelle passa a imagem de constante empatia. Usando um conceito teológico presente em Santo Agostinho, no casal Bolsonaro encontramos os dois caminhos da vida: a esposa é a graça (doce, afável, agradável e acolhedora) e o esposo é a natureza (arrogante, altivo, esmagador, violento).

É tudo sincero ou marketing? Não cabe a mim julgar e nem tenho poder para isso, mas essa imagem de Michelle Bolsonaro pode encantar muitas evangélicas. Assim como a primeira-dama, muitas evangélicas não são casadas com maridos evangélicos. Especialmente mulheres que se converteram ao evangelicalismodepois de adultas, é comum que muitas dessas mulheres sigam congregando em suas igrejas sozinhas. Talvez esse seja o ponto principal de identificação. Uma mulher evangélica pode olhar a primeira-dama como “uma de nós”. Ela vai à igreja enquanto o marido fica na “farra” com os amigos numa motociata.

Michelle Bolsonaro tem a imagem de uma mulher de oração. Vários vídeos e fotos já foram divulgados por detratores e apoiadores em momentos que a primeira-dama orava, inclusive com o uso do falar em línguas, a famosa glossolalia. A mulher evangélica pode pensar: É melhor no Palácio do Planalto uma mulher que ora pelo seu marido de temperamento difícil ou uma feminista radical? A rainha Ester é uma personagem bíblica que fez a diferença em um reino pagão com a sua piedade. A esperança e a oração constante da mulher cristã sem o marido convertido é pela mudança espiritual do cônjuge. As mulheres evangélicas costumam apresentar testemunhos de pequenas mudanças comportamentais do esposo como evidência de que o processo de conversão está acontecendo aos poucos na vida do marido. Afinal, o apóstolo Paulo escreveu que “o marido descrente é santificado por meio da mulher, e a mulher descrente é santificada por meio do marido.” (1 Coríntios 7.14 NVI).

Outro ponto importante: estética. A primeira-dama tem uma postura corporal de princesa inglesa. Ela fala suave e sem muita gesticulação. As roupas da primeira-dama são sempre discretas. Ela é a encarnação de uma moda evangélica mais, digamos, sofisticada. Diferente do que progressistas mais radicais podem imaginar, essa imagem de recato encanta muitas mulheres de igrejas da periferia. Recato, na mentalidade evangélica, é sinal de ordem e equilíbrio. Um assunto frequente em cultos pentecostais direcionados para mulheres é a importância da elegância associada à moderação.

Michelle Bolsonaro é um ativo importante para a campanha do presidente Bolsonaro - que vem encontrando grande oposição entre as mulheres ricas e pobres, evangélicas e católicas. Só o tempo dirá se essa resistência será quebrada com a postura pública de Michelle Bolsonaro ou se a inflação de alimentos pesará mais no voto feminino.