O Crescimento Expressivo das Igrejas no Brasil: Uma Análise Profunda pela Nota Técnica do IPEA

O Crescimento Expressivo das Igrejas no Brasil: Uma Análise Profunda pela Nota Técnica do IPEA

Uma recente nota técnica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) trouxe à tona dados impressionantes sobre o aumento significativo do número de igrejas no Brasil, desencadeando reflexões sobre a dinâmica religiosa e suas nuances.

De acordo com a pesquisa, destaca-se o notável quadruplicar do número de igrejas pentecostais e neopentecostais de pequeno porte, categorizadas como "outras pentecostais" pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este grupo, agora representando quase um terço de todas as igrejas no país, sinaliza uma transformação marcante no cenário religioso brasileiro.

Outros dados igualmente impactantes revelam que mais da metade das igrejas no Brasil pertencem ao segmento pentecostal ou neopentecostal, totalizando impressionantes 52%. Em contraste, as igrejas históricas compreendem 19%, enquanto a Igreja Católica representa 11% do panorama religioso nacional. Surpreendentemente, a Assembleia de Deus, com 14%, ultrapassa numericamente a igreja católica.

Esses números não apenas confirmam o crescimento vigoroso dos evangélicos, mas também suscitam reflexões sobre dois aspectos fundamentais: o modelo de hierarquia e o conceito teológico de templo, destacando as diferenças marcantes entre as tradições católicas e evangélicas.

A análise revela que o lugar sagrado evangélico é caracterizado por sua abordagem menos exigente e mais moderna, refletida em espaços com menos elementos de devoção e culto. Sua natureza flexível, líquida e adaptada ao homem contemporâneo contrasta com as exigências mais tradicionais e pré-modernas presentes nos templos católicos.

A comparação entre linguagem, liturgia e mensagem também destaca divergências substanciais entre os grupos, inclusive dentro do próprio espectro evangélico. A formação "profissional" dos pastores, menos formalizada se comparada aos padres católicos, emerge como uma característica distintiva.

Além disso, a nota técnica aponta para uma diferença significativa nos modelos de liderança, especialmente na Assembleia de Deus. A proposta expansionista explicitada neste grupo confere a indivíduos com baixa escolaridade e preparo formal "missões" e "encargos" para iniciar novos trabalhos, estabelecendo pontos de pregação ou congregações com a visão de se tornarem futuras igrejas no "ministério".

Em um país onde a diversidade religiosa é uma realidade, a nota do IPEA não apenas destaca as mudanças quantitativas nas igrejas, mas também convida à reflexão sobre as transformações qualitativas que permeiam o cenário religioso brasileiro, moldando identidades, práticas e perspectivas no campo espiritual.

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Marcos Simas é Doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo, é professor do programa de Mestrado em Teologia da FTSA – Faculdade Teológica Sul Americana. Por quase 10 anos foi Publisher e Editor-chefe da revista Christianity Today em língua portuguesa.