O silêncio dos evangélicos sobre o julgamento de Bolsonaro

O silêncio dos evangélicos sobre o julgamento de Bolsonaro
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em entrevista à CNN. Créditos: CN

Um tema importante que acontecerá nos próximos dias será o julgamento de Bolsonaro. Mas parece que evangélicos em geral não estão falando sobre esse assunto. Por que há esse silêncio?

A consultoria Quaest divulgou uma pesquisa em que a aprovação de Lula cresceu 5 pontos entre evangélicos, de 39% em abril para 44% em junho. Tem algum novo fator motivando essa mudança de percepção? Líderes e fieis evangélicos estariam se distanciando do Bolsonaro?

Minha inferência é que os líderes religiosos progressistas não estão falando sobre Bolsonaro na semana em que ele pode se tornar inelegível porque dão como certo a condenação do ex-presidente pelo TSE. Já os líderes conservadores expoentes, possivelmente, mantêm uma relação marcada pelo fisiologismo. O discurso religioso fundamentalista ao que parece era apenas o verniz que encobria seus projetos de poder e a relação com o poder político vigente em troca de favores e outros benefícios ao interesses de seus empreendimentos religiosos, em detrimento do bem comum.

A aproximação com o ex-presidente foi mais pragmática do que ideológica e a liderança frágil e inábil dele desencorajou o grupo de apoiadores. Esse apoio também é ideológico, mas hoje, esse ethos protestante é subserviente ao espírito do capitalismo. Tendo um vislumbre de melhora na economia e oportunidade de emprego, o fiel se sujeita à autoridade constituída por Deus conveniência.

A inação de Bolsonaro pós eleição e a tentativa de golpe de 8/01 arrefeceu os ânimos dos menos fanáticos. Se esse modelo civilizatório bolsonarista radical - para além do Bolsonaro - ainda persiste incubado, a maioria está aguardando e observando. Na prática política todo governo tem anuência estratégica em seus 6 primeiros meses, com [apesar] Lula não seria diferente. Os líderes e fieis oram para que dê certo o novo governo e se "sujeitam" resignados à autoridade instituída pela "vontade soberana de Deus".

O apoio pela pauta moral conservadora permanece, pois ela é cara aos evangélicos conversadores. Só que no momento o apoio se dispersa à procura de um novo "messias" com liderança carismática para erguer novamente o estandarte da moral e bons costumes. Nesse hiato, ao que tudo indica, os caciques evangélicos se mancomunam buscando uma referência "proba e ilibada" que atenda a agenda e o projeto de poder do segmento.

E aqueles pastores e lideres interessados mais em consumo do que em costumes também deram um passo para trás. Eles serão ainda menos fieis a alguém controverso e sem perspectiva de poder. Esse estilo de fé está centrado nas oportunidades e no dinheiro e quem pode oferecer no momento esse "paraíso" na terra é o Lula.

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Roney de Carvalho Luiz é doutorando em Teologia na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, contemplado com bolsa de estudos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes); mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2012); graduação em Teologia pelo Centro Universitário de Maringá (2006) e graduado em licenciatura em História (2023). Coordenador de curso de graduação no núcleo de humanidades da EaD UniCesumar com experiência em gestão e organização educacional de cursos presenciais e a distância e elaboração de projeto pedagógico de cursos a distância. Docente em graduação e pós graduação, principalmente elaborando materiais para EaD e lifelong learning. Pesquisador de Filosofia, Sociologia, Teologia e Ciências da Religião (graduação e pós-graduação). Avaliador do Banco de Avaliadores do Sinaes - INEP. Organizador do Grupo de Estudos Interdisciplinares em Teologia, Religião e Religiosidade. Como educador e teólogo trabalha na formação continuada e capacitação de professores e líderes ministeriais para diversas organizações.