Os Evangélicos e o Conflito Israelo-Palestino: a ausência do compromisso humanitário

Os Evangélicos e o Conflito Israelo-Palestino: a ausência do compromisso humanitário

O recente e trágico conflito entre Israel e Palestina, que causa a morte de milhares de pessoas diariamente, incluindo crianças inocentes, é mais um capítulo da longa história de violência e opressão que assola esta região há décadas.

Tenho acompanhado diariamente alguns jornalistas-heróis que arriscam as suas vidas para revelar os massacres em Gaza. Lamentavelmente, deparei-me com a imagem de uma criança que recolhe restos mortais de um familiar (acredito). O menino demonstrou tanta concentração em remover o que havia à sua frente que, apesar das correrias e dos barulhos dos bombardeios que o cercavam, isso não o impediu de cumprir a sua missão de amor, respeito, dor e responsabilidade em relação ao outro. Esse é o contexto no qual crianças terão de lidar com essas imagens para sempre, o que significa que enfrentarão uma dor sem fim.

Do lado de cá, infelizmente, há entre os evangélicos, “evangélicos” ultraconservadores e fundamentalistas que dizem ser esse o preço para quem se levanta contra a nação “escolhida de Deus”. Quem pensa assim só tem um objetivo na mente, a saber: ódio coletivo.

É profundamente lamentável constatar a ausência de um posicionamento firme por parte de alguns membros da comunidade evangélica em apoio aos palestinos. Diversos líderes religiosos, influenciados por uma interpretação literal da Bíblia, têm apoiado Israel incondicionalmente, mesmo diante das evidências de que o país está envolvido em ações que configuram crimes contra a humanidade.

A falta de posicionamento pode ser atribuída, em parte, à falta de conhecimento histórico sobre a região. Muitos acreditam que o Israel bíblico é o mesmo que o Estado de Israel atual, mas isso não é verdade. Israel bíblico era um reino independente que existiam há mais de dois mil anos, enquanto o Israel moderno é um Estado criado em 1948, com uma população predominantemente judaica e mais financiada pelo norte global, ou seja, os Estados Unidos.

Além disso, é perceptível que alguns evangélicos acreditam que Deus concedeu à Terra Santa exclusivamente aos judeus, negando aos palestinos qualquer direito sobre esse território (basta lembrar as colônias judaicas na Cisjordânia). Todavia, essa interpretação é questionada, uma vez que a Bíblia não menciona expressamente que Deus destinou à Terra Santa aos judeus.

É indiscutível que os ataques de Israel a Gaza são desproporcionais e constituem um genocídio. O país tem usado armas pesadas, como bombas e mísseis, contra uma população civil que não dispõe de recursos para se defender.

Em síntese, é crucial que alguns evangélicos revejam a sua postura em relação a esse conflito. É imprescindível que eles se opunham contra a violência e a opressão, e protejam os direitos humanos de todos os povos, incluindo os palestinos. Este é um momento crucial para refletir e contribuir para a promoção da justiça e harmonia na região, independentemente de crenças religiosas.

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Lucas Medrado é doutorando em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Especialista em História e Teologia do Protestantismo no Brasil pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Universidade Santo Amaro. Graduado em Letras Português/Inglês pelo Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo. Membro da Rede Latino-americana de Estudos Pentecostais (RELEP). É autor do livro Cristianismo e Criminalidade (Fonte Editorial). Membro da Assembleia de Deus (Ministério do Belém) em São Paulo, SP