Pastores Cool no visual, mas vintage na pregação

Pastores Cool no visual, mas vintage na pregação
Créditos: Rubens Cavallari/Folhapress

Fundo preto. Calça rasgada. Tatuagem. Camisa californiana. Não poucas vezes marombado. Linguagem coloquial, descolada. Tudo de mais avançado que pode parecer existir no meio evangélico, a exceção da mentalidade que segue sendo arcaica. Sim, boa parte dos pastores que se vendem esteticamente como cool, possuem um pensamento e uma teologia vintage.

Logicamente que esta discrepância gera um problema na relação de consumo. Sim, de consumo, uma vez que as recomendações de um personal stilist têm cunho e finalidade mercadológica. Ocorre que na imensa maioria dos casos, o fiel, uma vez atraído pela estética, se frustra ao se deparar com a superficialidade, inconsistência e incoerência contida nas homilias retrógradas, legalistas e reduzidas à pauta de costumes de tais pregadores.

Mais grave ainda é a “esquizofrenia” espiritual que passa a ser desenvolvida por quem pertence a tal comunidade de fé, a qual elenca pautas simplesmente esquecidas na agenda de Jesus, como sendo as essenciais, relegando ao olvidamento aquelas pelas quais o Mestre realmente se importou. O resultado é um eterno movimento em looping que repara no cisco no olho do outro, ao mesmo tempo em que esquece a trave presente no próprio olho, como bem lembrou o Nazareno.

O que termos, na verdade, é o vinho novo do Evangelho de Jesus em um odre velho, apesar dos adereços, do adorno, do verniz que é aposto sobre ele. Como na figura usada por Jesus, a força do Evangelho rompe as estruturas, sejam elas institucionais ou mentais, e manifestando a tibieza e o lugar comum de quem se prenuncia como diferente e avançado.

Se eu puder lhe dar uma dica, fuja dessas aparências de modernidade. Elas escondem o que há de mais arcaico no sistema religioso.

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Pr. Dr. Sérgio Ricardo Gonçalves Dusilek é Mestre e Doutor em Ciência da Religião (UFJF/MG); Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Filosofia da Religião, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF/MG); Pesquisador em Estágio de Pós-Doutorado pela UEMS (Bolsista CAPES); Pastor na Igreja Batista Marapendi (RJ/RJ); Professor do Seminário Teológico Batista Carioca. Autor de Bíblia e Modernidade: A contribuição de Erich Auerbach para sua recepção e co-organizador de: Fundamentalismo Religioso Cristão: Olhares transdisciplinares; O Oásis e o Deserto: Uma reflexão sobre a História, Identidade e os Princípios Batistas; e A Noiva sob o Véu: Novos Olhares sobre a participação dos evangélicos nas eleições de 2022.