Pastores Cool no visual, mas vintage na pregação
Fundo preto. Calça rasgada. Tatuagem. Camisa californiana. Não poucas vezes marombado. Linguagem coloquial, descolada. Tudo de mais avançado que pode parecer existir no meio evangélico, a exceção da mentalidade que segue sendo arcaica. Sim, boa parte dos pastores que se vendem esteticamente como cool, possuem um pensamento e uma teologia vintage.
Logicamente que esta discrepância gera um problema na relação de consumo. Sim, de consumo, uma vez que as recomendações de um personal stilist têm cunho e finalidade mercadológica. Ocorre que na imensa maioria dos casos, o fiel, uma vez atraído pela estética, se frustra ao se deparar com a superficialidade, inconsistência e incoerência contida nas homilias retrógradas, legalistas e reduzidas à pauta de costumes de tais pregadores.
Mais grave ainda é a “esquizofrenia” espiritual que passa a ser desenvolvida por quem pertence a tal comunidade de fé, a qual elenca pautas simplesmente esquecidas na agenda de Jesus, como sendo as essenciais, relegando ao olvidamento aquelas pelas quais o Mestre realmente se importou. O resultado é um eterno movimento em looping que repara no cisco no olho do outro, ao mesmo tempo em que esquece a trave presente no próprio olho, como bem lembrou o Nazareno.
O que termos, na verdade, é o vinho novo do Evangelho de Jesus em um odre velho, apesar dos adereços, do adorno, do verniz que é aposto sobre ele. Como na figura usada por Jesus, a força do Evangelho rompe as estruturas, sejam elas institucionais ou mentais, e manifestando a tibieza e o lugar comum de quem se prenuncia como diferente e avançado.
Se eu puder lhe dar uma dica, fuja dessas aparências de modernidade. Elas escondem o que há de mais arcaico no sistema religioso.
*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.
Pr. Dr. Sérgio Ricardo Gonçalves Dusilek é Mestre e Doutor em Ciência da Religião (UFJF/MG); Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Filosofia da Religião, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF/MG); Pesquisador em Estágio de Pós-Doutorado pela UEMS (Bolsista CAPES); Pastor na Igreja Batista Marapendi (RJ/RJ); Professor do Seminário Teológico Batista Carioca. Autor de Bíblia e Modernidade: A contribuição de Erich Auerbach para sua recepção e co-organizador de: Fundamentalismo Religioso Cristão: Olhares transdisciplinares; O Oásis e o Deserto: Uma reflexão sobre a História, Identidade e os Princípios Batistas; e A Noiva sob o Véu: Novos Olhares sobre a participação dos evangélicos nas eleições de 2022.