Política e violência nas igrejas

Na quarta-feira passada, 31 de agosto, numa igreja evangélica de Goiânia um irmão, cabo da PM, atirou contra outro irmão numa discussão sobre política ocorrida dentro do templo. A discussão ocorreu depois do líder da igreja ter orientado os membros a não votar em candidatos da esquerda. Que a violência tenha aumentado sua presença na cena política já era algo perceptível, desde 2018, mas a semana que passou foi recheada de novos e preocupantes sinais nessa direção. Na Argentina um homem disparou contra a vice-presidente Cristina Kirchner. Só não terminou numa tragédia maior porque a arma falhou. Ainda nessa semana um deputado estadual fez um disparo dentro de um diretório do PSDB, no Jardim Europa. Por fim, uma escola de elite de São Paulo teve de administrar rumores de que um aluno preparava um ataque à escola.

Que a violência tenha estado presente na sociedade não chega a ser novidade. Nova é uma predisposição para resolver os conflitos à bala e não pelo diálogo ou por meio dos tribunais, como fazem as pessoas em nações civilizadas. Porém, novíssima é a penetração no arraial evangélico da violência a reboque da política. Trata-se de elemento espúrio, repugnante e reprovável em todos os aspectos.

Não devemos demonizar a política, mas não podemos adorá-la. A política não pode paralisar a adoração a Deus, não pode dividir o corpo de Cristo, não pode suprimir a ética do amor ao próximo, inclusive do amor aos inimigos.

A mistura tóxica entre cristianismo e campanha política não é invenção brasileira. Lá nos Estados Unidos um político se dirigiu aos evangélicos no período eleitoral dizendo: cuidado, nós estamos a uma eleição de perdermos tudo. O que este político estava dizendo é “olhe o meu partido é o partido que vai preservar a igreja e os valores bíblicos”.

Quando pastores fazem declarações de que se essa corrente ganhar estaremos seguros ou se aquela corrente política vencer, a igreja e a família estarão em perigo, o que estão fazendo na verdade é declarando que confiam mais no poder político do que em Deus. Analisando o uso do nome de Deus para defender posições políticas o teólogo Michael Horton fez uma afirmação que merece ser ouvida:“Jesus não é um mascote para um reduto eleitoral, mas o salvador do mundo.”

Em sua Grande Comissão, Jesus deu autoridade à igreja para fazer discípulos, não eleitores desse ou daquele partido; para proclamar o evangelho, não opiniões políticas; para batizar pessoas em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, não em nome da direita ou da esquerda; e ensinar tudo o que ele ensinou, não nossas prioridades pessoais e políticas.

Os candidatos passam, as eleições passam e as ideologias definham e morrem. Um César se vai e outro vem. Porém, Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre (Hebreus 13;8). A ele, somente a ele, seja a glória na casa e Igreja do Deus vivo.