Por que escrevi o livro “A religião mais negra do Brasil”
A motivação de escrever o livro começa pela minha própria experiência. Eu observava meu pai, que era da Igreja Batista, depois foi para as Assembleias de Deus. Ele aprendeu a ler com a Bíblia. E com todo seu aprendizado, ele se tornou uma liderança muito forte.
Ele era uma pessoa muito carismática, e o carisma é algo central nas igrejas pentecostais, está ligado à ideia do Espírito Santo, de pregação da palavra e do que Ele manda anunciar. Às vezes, o indivíduo pode não saber escrever direito, mas se ele tem carisma isso influencia muito na sua capacidade de liderança.
A experiência de observar quando eu ia pregar na Igreja ou quando acompanhava os cultos dos lares na minha casa me fizeram pensar muito. E os cultos eram formados sobretudo por pessoas negras. Isso foi uma coisa que já estava introjetada nas minhas reflexões.
Posteriormente, chamou minha atenção os dados IBGE, que mostravam que os negros estavam muito mais nas igrejas evangélicas do que no candomblé e umbanda, por exemplo. As tradições de matriz africana eram muito pequenas, e agora eu tenho percebido que estão crescendo.
Isso é fruto também das decepções de muitas pessoas com as igrejas evangélicas, sobretudo pessoas negras que ficaram decepcionados com a forma que a questão racial é tratada nesses espaços. Essas pessoas acabam adquirindo também conhecimentos sobre a pauta da negritude, e acham que as matrizes africanas são uma espécie de retorno às origens, a uma perspectiva descolonizada ou algo do tipo.
Penso que talvez também falte aí uma compreensão do que é a fé cristã. Eu comecei a meditar nisso, sobre o que é o cristianismo e a sua relação com a questão racial.
A Fé cristã também é de matriz africanas e também asiática. A fé cristã não é coisa do opressor europeu. O sistema do cristianismo sim, mas a fé cristã não. Os primeiros cristãos além do discípulos que foram assim chamados como está no livro de Atos, foram o Cóptas na Etiópia, muito antes da igreja romana.
E fui incentivado a escrever. Eu escrevia sem saber o que iria dar, sem pensar em lançar um livro, como ocorreu. Mas com muito apoio e incentivo, lancei a primeira edição. Pouco depois, então, houve a segunda. Eu espero que eu consiga dar continuidade ao meu plano que é: a cada dez anos eu escrever uma nova edição, colocando dados novos e, de repente, complementando com algum artigo.