Precisamos falar do Pr. Jack

Precisamos falar do Pr. Jack
Pastor Jack

Faz um tempo que escrevo aqui no Observatório Evangélico, e é com muita alegria que dou início a minha coluna nesse importante meio de comunicação. O Observatório Evangélico tem como principal objetivo captar e circular a multiplicidade de vozes e visões de evangélicos no país. Pensando em como contribuir ainda mais com esse objetivo, resolvi trazer ao debate um pouco de tudo que circula no “mundo” evangélico, música, humor, denúncias, curiosidades, eventos, conflitos e envolvimento político.

É importante lembrar sobre a minha perspectiva dupla. Por um lado, um evangélico, convertido e criado dentro da igreja evangélica, que tem amor pelas escrituras e como gosto de dizer, Crente! Por outro lado, de um aprendente da sociologia, antropologia e história, utilizando sempre essas ferramentas para análises e abordagens.

Você pode contribuir para essa coluna, indicando temas, fazendo críticas e sobretudo conversando comigo pelo meu Instagram @viniciusfgomess, será um prazer saber o que você tem para dizer. Vamos começar?

Precisamos falar do Pr. Jack[1]. Se você ainda não viu nada sobre ele, provavelmente verá. Pastor, casado e com 42 anos de idade, Jackson, tem viralizado principalmente entre os homens evangélicos. Seja criticando outras igrejas e pastores, ou assumindo com certa ironia a figura de um homem estereotipado, ele faz ataques a cultura, a ideologias, lideranças religiosas e políticos. Não esconde sua predileção por charutos, suas tatuagens e suas opiniões. Somando a isso, um aparente desprendimento em relação a opinião dos outros, sempre polemizando suas ações sob a justificativa da autenticidade diante a hipocrisia, religiosidade e desconhecimento alheio.

Meu primeiro contato com o conteúdo do Pr. Jack, não foi especificamente com ele, mas com um viral, que se passava em um cenário escuro, com um ringue improvisado, cadeiras, bíblias, um púlpito e alguns homens observando atentamente uma luta[2]. A ideia não é nova, em 2009, a igreja Renascer em Cristo utilizou a mesma estratégia para chamar a atenção de jovens. Mas o que me chama a atenção não necessariamente a estratégia, mas a mensagem e o destino.

Apesar de todas essas polêmicas e da postura combativa, gostaria de destacar a comunicação eficiente com uma parte do público masculino, pois é ai que está a inovação! Dados demonstram que as lideranças das igrejas evangélicas no Brasil são exercidas majoritariamente por homens, apesar de serem minoria em relação ao percentual de fieis dessa vertente do cristianismo.

A figura da mulher, mãe e esposa que ora por seus filhos e marido, tem maior efetividade nos aspectos de coesão do grupo evangélico e promove uma maior efetividade na proselitista (Mariano, 2005[3], Spyer[4], Teixeira & Barbosa 2022[5]). Isso nos leva a nos questionar sobre como os evangélicos tem se comunicado com o gênero masculino? A pergunta é boa, mas carece de um pouco mais de tempo (linhas) para ser respondia.

Por hora, podemos destacar o fato de que o crescente discurso em relação ao resgate da identidade, e o apelo a uma masculinidade cristã pregada por pastores como Pr. Jack, encontra boas conexões com discursos da extrema direita, red pills e outros grupos que se opõem ao avanço de pautas pluralistas. Para esses grupos, algumas pautas representam a destruição do mundo como deveria ser, sendo essa a justificação, para ideias carregadas de propostas formadas com ideias reacionárias, que buscam resgatar, regenerar ou recuperar identidades perdidas, destruídas, inibidas pela cultura pós-moderna, pelo globalismo, feminismo, comunismo e todas a multifaces de “ismos”.

Não se trata apenas de uma estratégia de interação, mas de uma complementação de cosmovisão e orientação, que ao contrário de grupos políticos ou culturais, tem como complementação linguística a bíblia e o cristianismo. O seguidor do Pr. Jack pode não reconhecer legitimidade no discurso red pill, mas encontra na masculinidade bíblica uma face aceitável dessa postura, com limites estabelecidos pela moralidade bíblica e justificativa escatológicas.

Eu sei que o texto ficou um pouco grande, mas se você chegou até aqui peço que sinalize, me manda uma mensagem, faça uma publicação criticando, elogiando ou divulgando. Quem sabe na próxima conversa continuamos, pois, para além da figura do Pr. Jack precisamos falar sobre as portas de acesso de homens ao cristianismo evangélico.

[1] @pastorjack
[2] A luta foi entre Gabriel Melo e Dimitri Burgo.
[3] MARIANO, Ricardo, Neopentecostais, Sociologia do Novo Pentecostalismo Brasileiro, Editora Loyola, 2005.
[4] SPYER, Juliano, O povo de Deus, Quem são os evangélicos e porque eles importam”, 2018.
[5] TEIXEIRA e BARBOSA, Jacqueline Moraes, Olivia Alves, A MULHER E A FAMÍLIA: AGENDAS PENTECOSTAIS NA DISPUTA PELA GRAMÁTICA DOS DIREITOS HUMANOS, Cadernos do Centro de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2022.


Vinícius Gomes é Cristão, professor e Doutorando em sociologia pela USP, Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Estado de São Paulo. Possui MBA em Gestão da Educação Pública e Licenciatura em História. Dedica-se a pesquisar as relações entre os Bolsonaristas e os evangélicos, bem como sua inserção no mundo digital.