Reflexões sobre o crescimento de templos evangélicos no Brasil

Reflexões sobre o crescimento de templos evangélicos no Brasil

Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), utilizando dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), revelou que as igrejas evangélicas no Brasil estão em ascensão. Atualmente, representam sete em cada dez estabelecimentos religiosos formalizados no país. Em comparação, os estabelecimentos católicos correspondem a apenas 11% do total. Esse crescimento é notável em relação a 1998, quando os locais de culto evangélicos representavam 54,5% do total. O estudo indica que o segmento pentecostal é o principal impulsionador desse aumento, com as pequenas igrejas de bairro contribuindo significativamente. Dentro desse contexto, os neopentecostais também são um destaque. Esses dados corroboram as descobertas de pesquisas recentes de Survey, que apontam o crescimento dessa vertente religiosa no Brasil, especialmente os últimos achados do pesquisador Victor Araújo, que avançou no mapeamento religioso brasileiro, incorporando métodos de rastreamento de templos por CNPJ.

Além da constatação óbvia de que esse grupo religioso vem crescendo e ganhando cada vez mais espaço na cena religiosa brasileira, algumas reflexões emergem desses dados. A primeira diz respeito à facilidade de abertura de templos religiosos no Brasil, refletindo nossa liberdade religiosa, incentivos fiscais e a disponibilidade de terras, espaços e equipamentos urbanos para serem utilizados como locais de práticas religiosas. De fato, a paisagem das cidades está cada vez mais ocupada por estabelecimentos religiosos.

A segunda reflexão é que, ao contrário da Igreja Católica, as denominações evangélicas priorizam a multiplicação de seus templos. Isso se deve ao fato de que cada uma das denominações evangélicas, considerada isoladamente, é minoritária. Isso significa que cada denominação ainda tem espaço para crescer e compete, em termos de mercado religioso, não só com a Igreja Católica, mas também com suas congêneres evangélicas. A expansão geográfica é, nesse sentido, resultado do crescimento de cada denominação e também uma estratégia de posicionamento no competitivo mercado religioso brasileiro.

Por fim, a multiplicação dos templos evangélicos está alinhada com o tipo de sociabilidade típica dessa vertente religiosa, onde o fiel passa muitas horas da semana em atividades no interior do templo, sejam elas relacionadas a cultos, escola bíblica, atividades comunitárias, entre outras. De fato, uma das mudanças decorrentes da transição religiosa que o Brasil vem passando é o aumento do tempo que o brasileiro passa na igreja, estando assim mais tempo sob a influência de líderes religiosos. A facilidade de acesso e a proximidade desses espaços com os locais de circulação cotidiana são elementos importantes para a decisão do fiel sobre qual igreja frequentar, o que, por sua vez, gera incentivos para as igrejas a multiplicarem seus espaços de culto.

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.

** Os textos de Vinicius do Valle são publicados no Observatório Evangélico e no espaço Diálogos da Fé da Carta Capital


Vinicius do Valle é Doutor e mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP). Graduado em Ciências Sociais pela mesma Universidade (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - USP). Realiza pesquisa de campo junto a evangélicos há mais de 10 anos. É autor, entre outros trabalhos, de Entre a Religião e o Lulismo, publicado pela editora Recriar (2019). É diretor do Observatório Evangélico e professor universitário, atuando na pós-graduação no Instituto Europeu de Design (IED) e na Faculdade Santa Marcelina, ministrando disciplinas relacionadas à cultura contemporânea e a métodos qualitativos. Realiza pesquisas e consultoria sobre comportamento político e opinião pública. Está no Twitter (@valle_viniciuss).