Renascer das dívidas

Renascer das dívidas

Esta coluna aponta assuntos relevantes e atuais do universo evangélico brasileiro e mundial, que podem ser aprofundados pela mídia secular ou religiosa.

Renascer das dívidas

A Justiça paulista mandou leiloar quatro imóveis pertencentes a Igreja Renascer em Cristo, liderada pelo apóstolo Estevam Hernandes. A informação é do jornal Folha de S. Paulo, do dia 2/6. A decisão foi concedida em um processo aberto pela Pole Comércio de Veículos, que afirma que a igreja lhe deve R$1,6 milhão em alugueis de veículos.

Entre os imóveis que devem ir a leilão está um prédio da avenida Lins de Vasconcelos, no Cambuci (SP), cujo teto desabou em 2009, matando nove pessoas e deixando cerca de 100 feridos. O prédio está avaliado em R$ 14 milhões.

Imbroglios e escândalos financeiros envolvendo a Renascer em Cristo vêm de longa data. Quem se recorda do episódio dos dólares encontrados na Bíblia da bispa Sônia Hernandes, em 2007, quando o casal foi condenado pela justiça americana por entrar com US$ 56 mil no país sem declarar? Foram presos nos Estados Unidos, acusados de estelionato, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e ocultação de dólares. Mesmo assim, a Renascer segue firme com um canal de TV e pregações.

A Rede Gospel tem, segundo o site, 25 emissoras em seis Estados brasileiros, com sinal chegando a 46 milhões de telespectadores.  

Para apurar:

Merece uma matéria mais aprofundada. Como era a Renascer do século XX e como é a igreja em 2023. Quantos fiéis ganhou ou perdeu? E o número de templos? Quem são os líderes que os apoiam? Como mantêm uma rede de TV e quem são seus padrinhos políticos?

Eva revisitada

Um tema que ainda gera polêmica nas igrejas é a definição do que seja a masculinidade ou a feminilidade à luz da Bíblia. Em sua maioria, as igrejas evangélicas brasileiras defendem a interpretação chamada complementarista, que diz que a mulher deve ser submissa ao homem, o “cabeça” instituído por Deus para a família.

Uma grande conferência marcada para 20 a 22 de julho na Faculdade Teológica Batista, em São Paulo, pretende promover um grande debate sobre o assunto.  “Mulheres e as Escrituras: Resgatando a visão bíblica” quer “recuperar a visão bíblica da liderança feminina do lar, na igreja e no mundo”, segundo informa o site da CBE Internacional, ministério que está chegando no Brasil. O Cristãos pela Igualdade Bíblica apoiam a leitura igualitária do texto bíblico, defendendo a igualdade entre homens e mulheres.

Entre os preletores está Craig Keener, respeitado professor do Asbury Theological Seminary, autor de 33 livros, com mais de um milhão de exemplares em circulação, e que foi presidente da Evangelical Theological Society em 2020.

Mais informações e inscrições, com vagas limitadas: https://www.cbeinternational.org/brazil2023/

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Bem-aventurados os pacificadores on-line

O Vaticano divulgou um documento de 20 páginas com dicas para os fiéis que navegam pelas redes sociais. A “Reflexão pastoral sobre engajamento nas mídias sociais”, publicada nesta última semana (30/5), visa “adotar uma abordagem criativa e construtiva que possa promover uma cultura de boa vizinhança”. O documento desaconselha os bispos a postarem “comunicação divisiva”.

Os católicos chegam atrasados nessa pauta. Já em 2019, a Igreja Anglicana lançou um guia de “Bem-aventuranças para as Redes sociais”, com instruções para os cristãos que desejam se comportar de maneira, digamos, ...cristã, nas mídias. Entre os conselhos, estão: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia. Não julgarei os outros, mas serei generoso on-line. Estarei consciente de minhas próprias falhas.” A Igreja Metodista também publicou naquele ano suas diretrizes.

Sugestão: Uma matéria que mostre como as diferentes denominações no Brasil se comunicam com seus membros no que se refere às redes sociais.

‘Ninguém morre de amor demais’

De uma beleza pungente é o novo álbum de Paul Simon, chamado Sete Salmos. O mítico compositor americano, premiado várias vezes com o Grammy, conta em um trailer sobre esse novo trabalho que despertou certa noite de um sonho e começou a tomar nota do “recado” que ele recebia. Foi em janeiro de 2019: “O sonho foi tão forte que me levantei e escrevi, mas não tinha ideia do que aquilo significava. Comecei a acordar duas ou três vezes por semana, entre 3h30 e 5h da manhã, e as palavras vinham. Eu as anotava e começaria a juntá-las.”

A folha em que escreveu as letras das canções de Seven Psalms está agora numa moldura, na parede de seu escritório. São pura poesia sacra. O violão de Simon é contemplativo. “O Senhor é meu engenheiro. O Senhor é a terra por onde ando. O Senhor é a face na atmosfera. O Senhor é uma refeição para o mais pobre dos pobres. Uma porta que acolhe o estrangeiro.”

E o verso de que mais gostei: “Nothing dies of too much love”.

O álbum pode ser ouvido no Spotify.

Paul Simon merece um belo perfil que possa apresentá-lo para as novas gerações que ainda desconhecem “The sounds of silence” ou “Scarborough Fair”, que gravou ao lado do companheiro de jornada, Art Gafunkel.

Link do trailer para quem se interessar:

https://youtu.be/ZiDc4DbFQZY

* Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Marília de Camargo César nasceu em São Paulo, é casada e tem duas filhas. Jornalista, é editora-assistente de projetos especiais do Valor Econômico, maior jornal de economia e negócios do Brasil. É também autora de livros que provocam reflexão nas lideranças evangélicas. Suas obras mais conhecidas são Feridos em nome de Deus, Marina — a vida por uma causa e Entre a cruz e o arco-íris.