Rio Grande do Sul: entre os muitos acertos, uma preocupação

Convenhamos, o Governo Lula tem dado um verdadeiro show no enfrentamento da tragédia gaúcha. Visitas aos pampas com massiva presença ministerial; superação da divergência política em nome do socorro aos flagelados; anúncio de diferentes iniciativas que visam ajudar a reconstruir o querido Rio Grande do Sul, que vão desde recursos financeiros diretamente liberados para as famílias, até subsídios para construção de novas moradias e reparação da malha viária e aeroviária, passando pela suspensão da cobrança do serviço da dívida do Estado junto à União. Sem contar o banho de humanidade e solidariedade que voltou com força, espelhado no intenso movimento nacional de socorro às vítimas e na face de um presidente visivelmente emocionado ao lidar com crianças em abrigos. Uma grande prova do sucesso das ações é a proliferação de mentiras pela indústria das fake news. Está incomodando e muito.

Entretanto, uma iniciativa do Governo pode colocar em risco todo esse exitoso, até o momento, movimento de socorro ao RS. Falo da nomeação de Paulo Pimenta como Ministro Extraordinário para o RS, e da forma que foi feito.

Vamos primeiramente à forma. Não sei se você reparou, mas na plataforma do auditório da Unisinos havia um púlpito, de onde Lula e outros discursaram. Ora, o púlpito poderia ser perfeitamente usado para assinar a nomeação de Pimenta. Infelizmente, todavia, trouxeram uma mesa para que a assinatura fosse feita em frente ao Governador Eduardo Leite, no que pareceu ser um ato provocativo, cujas imagens foram muito exploradas. Sobre isso digo: - Presidente, o senhor é, precisa ser, maior do que isso.

Sobre a nomeação, preocupa. Conversei com alguns entendidos em política. Ninguém elogiou...

A questão é que uma quase unanimidade (negativa, mal avaliado) na comunicação, tem tudo para se tornar uma nova e negativa unanimidade na qualidade de "reconstrutor federal".

Sinceramente não sei se a escolha tem mais a ver com: tirar a SECOM de Pimenta; ou colocar "pimenta" no PSDB; ou ainda querer ajudar o companheiro para que alce vôos mais altos em 2026, o que, neste caso, pode acabar inviabilizando de vez a sua (Pimenta) trajetória política, caso ele não dê conta do recado.

Perceba, nem toda vocação parlamentar se traduz em igual trânsito e facilidade no executivo. Gestão é diferente de debate. Sinceramente não acho que o deputado Pimenta seja ruim. Só constato, como muitos outros, que ele na função executiva, gestora, não teve a mesma desenvoltura e sucesso que teve como parlamentar. Neste sentido, a preocupação é saber se ele é bom gestor, mas não entendia nada de comunicação; ou se ele entendia de comunicação, mas não é bom gestor. Nesse último caso, estamos diante de um fato grave que pode chamuscar o governo Lula ao guinda-lo como a figura do governo federal para a reconstrução gaúcha.

Lembro, agora, de um livro: "Todo mundo é incompetente: inclusive você!". A tese é de que todos temos níveis de competência. Assim, um excelente mecânico necessariamente não tem que ser um ótimo gerente de oficina. Um excelente gestor não precisa ser também um campeão de vendas (e vice-versa).

Termino realçando o que disse a liderança do PT: acreditem, eu torço para que essa nomeação se mostre acertada. Mesmo porque não há margem para erro, uma vez se tratando de flagelados; uma vez se tratando da extrema-direita que segue à espreita.

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.

Pr. Dr. Sérgio Ricardo Gonçalves Dusilek é Mestre e Doutor em Ciência da Religião (UFJF/MG); Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Filosofia da Religião, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF/MG); Pesquisador em Estágio de Pós-Doutorado pela UEMS (Bolsista CAPES); Pastor na Igreja Batista Marapendi (RJ/RJ); Professor do Seminário Teológico Batista Carioca. Autor de Bíblia e Modernidade: A contribuição de Erich Auerbach para sua recepção e co-organizador de: Fundamentalismo Religioso Cristão: Olhares transdisciplinares; O Oásis e o Deserto: Uma reflexão sobre a História, Identidade e os Princípios Batistas; e A Noiva sob o Véu: Novos Olhares sobre a participação dos evangélicos nas eleições de 2022.