Sociólogo Ricardo Mariano analisa a utilidade do termo “neopentecostal” hoje

Sociólogo Ricardo Mariano analisa a utilidade do termo “neopentecostal” hoje
Valdemiro Santiago, fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus.

O termo "neopentecostal" aparece frequentemente em notícias e em conversas que acontecem publicamente, pelos meios tradicionais e pela internet. O sociólogo Ricardo Mariano, da USP, que propôs o termo, apresenta de maneira breve qual tipo de igreja ele descreve e suas limitações hoje.

1) Por favor, como você explica o termo “neopentecostal” de maneira breve para quem não tem contato com o campo evangélico?

Formada a partir de fins dos anos 70, a corrente neopentecostal se caracteriza pelas transformações e diversificação que promoveu no evangelismo nacional: rejeição da fuga sectária do mundo, de práticas ascéticas e do velho estereótipo crente, difusão da teologia da prosperidade conexa a ideário capitalista (promessas de “vida abundante” e prosperidade em troca de dízimos e ofertas), ênfase em doutrinas de guerra espiritual, redução da expectativa apocalíptica.

2) Você considera que esse termo continua sendo útil para pensar o cristianismo evangélico no Brasil hoje, levando em conta as transformações nesse campo nos últimos 30 anos?

Historicamente, o termo neopentecostal identifica e caracteriza a emergência e expansão de igrejas e suas inovações teológicas, litúrgicas, comportamentais e estéticas, que impactaram, de diversas formas, o pentecostalismo, movimento que se notabiliza por contínua diversificação. Nas últimas décadas, o termo neopentecostal foi incorporado no meio evangélico, no qual assumiu distintas conotações. Muitos líderes protestantes e pentecostais procuram distinguir suas igrejas das neopentecostais por rejeitar suas crenças e práticas, sobretudo a teologia da prosperidade. Por outro lado, num país de tradição católica, parte da população não tem familiaridade com esses grupos religiosos e, por isso, tende a desconhecer ou confundir os significados e fenômenos designados pelos termos protestante, evangélico, renovado, pentecostal e neopentecostal. Dificuldade que decorre também de sua enorme heterogeneidade institucional, de suas distintas origens e trajetórias históricas, de suas diferenças, divergências e rivalidades. São frequentes os usos midiáticos equívocos do termo neopentecostal para designar, por exemplo, as Assembleias de Deus e por aí vai. Por recobri-lo, o termo pentecostal pode substituir o neopentecostal, frequentemente, sem qualquer prejuízo.

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