Tarcísio se lançou como o novo mito na marcha para Jesus?

Tarcísio se lançou como o novo mito na marcha para Jesus?

Esta coluna aponta assuntos relevantes e atuais do universo evangélico brasileiro e mundial, que podem ser aprofundados pela mídia secular ou religiosa.

A cena de uma multidão de centenas de milhares de pessoas ocupando a avenida Tiradentes em direção ao Campo de Marte, na zona norte de São Paulo, foi menos relevante, a meu ver, do que uma outra fotografia durante a cobertura da Marcha para Jesus, que celebrou sua 31ª edição no feriado de Corpus Christi. A foto que falou mais alto foi a do governador de SP, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de joelhos e braços estendidos, em atitude de prece, no palco do evento, ao lado dos idealizadores do movimento, apóstolo Estevam Hernandes e bispa Sônia, da Igreja Renascer. Matérias da cobertura informa que o governador citou trechos da carta de Paulo aos Coríntios e aos Romanos. E até profetizou. "Se o povo se humilhar, orar, daqui em diante, estará com olhos abertos, ouvidos atentos, escutarão a Deus", disse o governador. "O caminho para Deus é se afastar do pecado. Muitas vezes a gente quer intimidade com Deus e não faz por onde. A oração nos leva a intimidade com Deus."

"Essa é a grande palavra profética de hoje, que Deus vai abençoar a casa de vocês, o projeto de vocês, e São Paulo", afirmou o governador.

  • Alguma dúvida de que a fotografia, as orações e a aproximação com os Hernandes fortalece Tarcísio como candidato a substituto do chamado “mito” no panteão de ídolos dos evangélicos? Repercussão dessa participação rende uma boa matéria para editorias de Política.
  • Para apurar (quem sabe para a edição do ano que vem da Marcha): Pastores e líderes evangélicos que se opõem à estratégia de evangelização da Marcha para Jesus. Uma sugestão de fonte é o pastor Nilson Gomes @nilson.gomesoficial, autor de “Igreja Deformada”, que comenta em seu Twitter: “Sempre fiz críticas à “marcha pra Jesus” [sic], inclusive, os mesmos pastores e as mesmas “gentes crentes” que me criticam por eu criticar o tal movimento, me aplaudiam há 10, 14, 15 anos e louvavam “minha coragem” em falar apologeticamente que isso não glorifica a Cristo. Sim, o evento ganhou cunho político partidário e tem servido a esse fim, além de não ser uma representação do evangelho. E insisto; Jesus nunca chamou ninguém pra marchar para ele. Jesus convida discípulos dispostos a segui-lo.”

* Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Marília de Camargo César nasceu em São Paulo, é casada e tem duas filhas. Jornalista, é editora-assistente de projetos especiais do Valor Econômico, maior jornal de economia e negócios do Brasil. É também autora de livros que provocam reflexão nas lideranças evangélicas. Suas obras mais conhecidas são Feridos em nome de Deus, Marina — a vida por uma causa e Entre a cruz e o arco-íris.