Crash Church, a Igreja do Heavy Metal
Hoje saiu no UOL mais uma reportagem sobre a "Igreja do Metal", em São Paulo, a Crash Church. Tenho grandes amigos lá, já fui inúmeras vezes, desde quando se chamava Zadoque. Existem outras igrejas que têm rock pesado no culto pelo Brasil também, como a Metanoia, no Rio de Janeiro.
Eu respeito e amo muito o pessoal das igrejas "underground" (underground no sentido de fazer uma música underground, que não tem apoio da grande mídia) e, se puder, vou visitar outras inúmeras vezes a Crash, quando estiver em SP.
Vi o pessoal progressista detonando a Crash Church, já que muitos progressistas são, na maioria das vezes, sectários e, se não prega teologia progressista, não presta para eles. Vi pessoal conservador falando que não pode ter rock na igreja. As críticas são inúmeras.
Eu vou colocar aqui o meu ponto de vista.
As igrejas de som underground já se propõem claramente a serem segmentadas. Elas são abertas a quem quiser ir, mas, se o rock pesado te incomoda, você não vai se sentir bem no culto, você vai procurar outra igreja. As igrejas segmentadas, como as do Heavy metal, querem alcançar um público específico, que é rejeitado pelas igrejas tradicionais, pentecostais e também as progressistas.
A Igreja Luterana não é segmentada. Apesar de termos o germanismo nas igrejas luteranas, não é algo proposital, não são igrejas focadas em descendentes de alemães. As igrejas luteranas procuram alcançar pessoas de todas as idades, cores, classes sociais, ideologias, gosto musical, não são igrejas segmentadas.
Então, apesar de gostar e amar a Crash Church e seus membros, assim como outras igrejas de som underground, eu não traria o Heavy metal para tocar no louvor aqui da congregação, mesmo que o heavy metal seja meu estilo musical favorito.
Na paróquia aqui temos fãs de sertanejo, pagode, jazz, eletrônico, não temos contexto de segmentação musical, não cabe mudar o culto para um culto heavy metal.Por isso amo a liturgia luterana tradicional, ela acolhe pessoas de todos os gostos e culturas.Aqui recebemos fãs de Heavy metal, sertanejo e qualquer outro estilo sem julgamentos, nenhum estilo musical é pecaminoso, pecado é o que fazem com as músicas, mas nenhum estilo musical em si é pecado.
Por isso que não colocaria música Worship aqui no culto também, porque segmenta, foca num só grupo cultural. Nada contra tocar música divertida em reunião de jovens, em festas, em eventos fora do culto, mas a ideia do culto luterano não é segmentar, focar num público, mas acolher pessoas de todos os estilos e culturas.
A Crash Church não está em pecado em segmentar, assim como as igrejas "church" (redundância proposital para fins de ironia) que tocam Worship. Eu odeio música Worship, mas, se eu gostasse, não teria problema nenhum ir visitar essas igrejas "church" segmentadas de música Worship, assim como gosto de heavy metal e vou na Crash sem problemas, me divirto muito lá e é uma diversão saudável, com letras cristãs, o culto é bem legal também, mas eu não segmentaria o culto aqui.
É isso. Nenhum pecado em segmentar e focar em públicos específicos, mas, na Igreja Luterana, temos pessoas de culturas e necessidades diferentes, segmentar o culto para um público seria contra nossos princípios.
Dito isso, Deus abençoe a Crash Church. É um trabalho muito legal.
Curiosidade: Na Finlândia tem um trabalho nas igrejas luteranas chamado Metallimessu (Missa metal - o culto luterano em muitos países é chamado de missa), que são shows de Heavy metal no formato da liturgia luterana, similar ao que a banda polonesa Batushka faz como paródia da liturgia ortodoxa russa, mas o Metallimessu é um evento separado do culto tradicional.
*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.
** Este texto foi originalmente publicado no perfil do autor no Facebook: https://www.facebook.com/story.php?story_fbid=pfbid02eHdmpZfoB66PLU8UTNvqfvUnUtSSm3ZnENeZtDjPsFw1qocL4yZUV1wL1GcRmPXql&id=683118177&mibextid=Nif5oz
Thiago Surian é pastor luterano. Publicitário. Formado em Teologia pela ULBRA. Publicidade pela UNIBAN. Entusiasta em Tecnologia e Games. Headbanger nas horas vagas. No Twitter é @surian e no Instagram é @thiago.surian.